sábado, 17 de agosto de 2013

TRATADO DO DESÂNIMO - Parte VI

Nota do blogue: Acompanhar esse especial AQUI.

TRATADO DO DESÂNIMO NAS VIAS DA PIEDADE
Obra póstuma do Padre J. Michel - 1952


AS NOSSAS INFIDELIDADES REITERA­DAS NÃO DEVEM FAZER-NOS PERDER A CONFIANÇA EM DEUS. SÓ A PERDE­MOS POR TERMOS FALTA DE FÉ.

Deus, pai terno de todas as Suas cria­turas, empregou todos os meios para tranquilizá-las contra esses temores excessivos que as afastam d’Ele. Receando que, com­penetrado da sua ingratidão, espantado com as suas infidelidades reiteradas, de­pois de tantas vezes lhes haver obtido o perdão, o homem perdesse toda a espe­rança e não mais ousasse dirigir-se a Ele para sair do abismo em que seria precipi­tado, não somente Ele lhe assegura que os que esperam n’Ele não serão confundidos (Sl 21, 6), mas lhe declara de maneira bem precisa a Sua vontade misericordiosa sobre este ponto importante: impõe-lhe como preceito esperar n’Ele.

Este preceito, só podemos cumpri-lo utilmente pela Sua graça. Poderia Deus ter estabelecido esse preceito se não ti­vesse querido ajudar-nos? E, se o estabe­leceu, pode não ficar sensibilizado com a nossa obediência, quando O invocamos na sinceridade do nosso coração? Pode aban­donar-nos, quando cumprimos aquilo que Ele nos prescreveu para obtermos o Seu socorro? Não; Deus não falta à Sua palavra. Se sucumbimos, é que a nossa con­fiança se enfraquece, é que temos falta de Fé.

Quereis uma prova e um exemplo disto? fornecer-vo-los-á o Evangelho. Fiado na palavra de Jesus Cristo, Pedro, cheio de confiança, anda sobre as águas. O ven­to vem a soprar, a confiança do Apóstolo diminui: ele teme, começa a afundar. Ex­citando o temor, o perigo reanima a con­fiança: Pedro recorre ao Seu divino Mes­tre, que lhe estende a mão para impedi-lo de perecer. Para nos instruir, Jesus não quis deixar Seu Apóstolo ignorar a causa do perigo que este havia corrido. Expro­brou-lhe a sua falta de confiança: Homem de pouca fé, diz-lhe Ele, por que duvi­daste?

Imagem natural, esta, do que sobejas vezes acontece a uma alma cristã. En­quanto tudo está em paz no seu coração, ela anda com confiança para ir a Jesus Cristo, conforme Ele a chama. Mas acaso o vento da tentação vem a elevar-se? acaso as dificuldades da virtude fazem-se sentir? então ela se perturba, esquece-se de que anda fundada na palavra de Jesus Cristo, começa a temer; hesita na sua confiança, que se enfraquece sempre mais por essa infidelidade: e ela começa a afundar; e, se a volta da confiança não lhe atrai um pronto socorro, ela sucumbe.

S. Pedro estava perdido, se não hou­vesse chamado Jesus para salvá-lo; e es­se bom Mestre não lhe faltou. Se uma alma cristã, depois de imitar a fraqueza desse Apóstolo, em vez de perder um tem­po precioso em se assustar, em se lamen­tar, invocasse como ele o seu Salvador, logo experimentaria a proteção d’Ele; evi­taria tantas quedas, tantas inquietações que a sua pouca confiança lhe ocasiona. Mas, neste caso, só deve ela queixar-se de si mesma, se não aproveita o socorro que está sempre pronto, que lhe é sempre ofe­recido. Ela conhece o perigo, sabe o meio de se subtrair a ele: é realmente culpa sua se não segue essa luz.