terça-feira, 16 de julho de 2013

INTRODUÇÃO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

INTRODUÇÃO

Antes de iniciar o estudo da verdadeira Igreja, a única fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e que permanece fiel ao Seu divino Mestre e assim há de conservar-se até à consumação dos séculos, antes de estudá-la, quero apresentar-vos uma brevíssima síntese das duas principais igrejas acatólicas: o grupo das igrejas gregas separadas, ou do Oriente, e o protestantismo.

O cisma do Oriente, donde procedem estas igrejas, teve sua origem no Concílio de Constantinopla, no ano de 381, com este cânon: “O bispo de Constantinopla deve ter o primado de honra, depois do Pontífice romano, porquanto Constantinopla é a nova Roma”. Este cânon não foi aprovado. Estava, todavia, lançada a semente da discórdia. Surgiram depois os Nestorianos e os Eutiquianos, que combatiam as declarações da Santa Sé. No ano de 857, Fócio usurpou a sé de Constantinopla; e, sendo deposto pelo Pontífice Romano, esforçou-se por separar da comunhão católica as igrejas orientais. E o cisma foi extinto, mas Sérgio o renovou em 1034. Em 1054 Miguel Cerulário deu vigoroso incremento ao cisma, consumando-o definitivamente. No ano de 1274 estabeleceu-se a concórdia pelo 2.° Concílio Lugdunense, reforçando-a o Concílio Florentino em 1439. Entretanto, depois destes auspiciosos acontecimentos, ressurgiu com maior intensidade o cisma do Orente, que perdura até aos nossos dias. Estas igrejas separadas são designadas pelo nome de “igreja grega” ou “igreja ortodoxa”. Os ortodoxos estão divididos em várias igrejas distintas e independentes, chamadas autocéfalas ou autonômas, sob o poder invisível de Cristo e a preeminência, só de honra, do Patriarca de Constantinopla. Todos usam o rito bizantino, mas cada qual na língua do seu país. Geralmente é reconhecida como “autônoma” a igreja existente em qualquer região politicamente autônoma, que por isso se chama “igreja nacional”. Sobressaem as seguintes entre as autônomas: Constantinopolitana, Alexandrina, Antioquena, Jerosolimitana, Iugoslava, Russa ou Rutena, Rumaica, Estoniana, Grega, Búlgara, Polonesa, Georgiana, Albanesa, Finesa, Letoniana, Lituana, Checoslovena, a da ilha de Chipre e as igrejas autônomas dos Estados Unidos da América do Norte e do Japão.

Quanto à doutrina [1] os ortodoxos ensinam que Jesus Cristo instituiu a Igreja, verdadeira sociedade visível e hierárquica, sob a autoridade invisível do próprio Cristo. O poder supremo de governar a Igreja, todavia, não foi concedido a Pedro, mas ao colégio apostólico. O primado do Romano Pontífice não é, portanto, de direito divino, mas só de direito eclesiástico, por causa da dignidade concedida no princípio à cidade de Roma e que depois passou para os bispos de Constantinopla, pelo menos quanto às igrejas orientais. Os ortodoxos reconhecem a autoridade dos sete primeiros Concílios Ecumênicos, isto é, até ao 2.° Concílio de Niceia, em 787, inclusive. Pois, dizem, aos outros só compareceu a Igreja Ocidental. Segundo os cismáticos, a Igreja não é uma sociedade monárquica, mas aristocrática, pois é regida pelo colégio dos Bispos.

Protestantes são os 164.000.000 de cristãos que professam doutrinas heréticas e que se separaram da Igreja Romana, tendo como pais espirituais Lutero e Calvino. Chamam-se protestantes desde o protesto que fizeram nas cortes de Spira (1529) contra as restrições feitas à expansão da reforma luterana. “Se o protestantismo leva sempre o mesmo nome, ainda que sua fé tenha variado imensamente, é porque, sendo esse nome puramente negativo e não significando mais do que uma renúncia ao catolicismo, quanto menos crer e mais protestar, mais protestantismo será e seu nome cada dia se tomará mais adequado”. [2]

Inúmeras são as seitas protestantes. Todas, porém, rejeitam o primado do Romano Pontífice, e reconhecem como única regra de fé a Bíblia Sagrada. Os erros de Lutero foram condenados por Leão X e depois pelo Concilio Tridentino. Três são as principais formas de Protestantismo: Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo. A estes se pode acrescentar um sistema moderno — o Protestantismo liberal.

Os luteranos dizem que a verdadeira Igreja de Jesus Cristo é invisível; e os fiéis na terra são unidos pelos vínculos do batismo, da ceia e da pregação do Evangelho. Esta Igreja visível não foi fundada por Cristo, mas pelos homens; e é governada por uma autoridade externa concedida ao chefe civil, ao estado ou a algum elemento religioso, por exemplo, os bispos, os presbíteros ou os mesmos fiéis.

Os calvinistas admitem uma Igreja visível, na qual o governo compete aos presbíteros delegados pelo povo e iguais aos bispos, por direito divino. Daí o nome de presbiterianos dado também aos calvinistas.

Os anglicanos, como o nome está indicando, vieram dos reis da Inglaterra, com Henrique VIII. Sua doutrina foi compendiada por Eduardo VI, em 42 artigos, que Isabel reduziu a 39. O Anglicanismo tem como chefe o Rei, mesmo nas coisas espirituais. Admitem o episcopado como de origem apostólica (não divina) e só reconhecem como ministros os que forem ordenados pelos legítimos bispos. Daí o serem chamados também “episcopalistas”. A este ramo pertencem os congregacionalistas, os batistas, os metodistas, o Exército da Salvação, etc.

Quanto ao protestantismo liberal, sua doutrina prega que Jesus Cristo propriamente não pregou nenhum dogma, não fundou nenhuma igreja; ensinou como os homens devem adorar a Deus como Pai e a Ele submeter-se. E assim os homens têm o direito de ir diretamente a Deus, realizando com Ele uma união íntima. Eis em resumo o “liberalismo”.

Notas:
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[1] “Quanto à doutrina” referente à Igreja, pois este é o assunto desta l.a Parte. Assim tanto nestas notas sobre os ortodoxos como nas que se referem aos protestantes, não trato dos outros pontos de doutrina em desacordo com a nossa Igreja. 

[2] De Maistre — Du Pape, IV, 5.