quinta-feira, 20 de junho de 2013

Graça santificante - (Quinta parte)

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.
Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

4- Seus efeitos nas obras

As obras são o fruto das operações. Ora da mesma maneira que uma árvore não dá fruto ou o dá mais ou menos imperfeito, assim também acontece com as nossas potências naturais: podem ser infrutíferas, não produzindo atos, ou produzindo atos mais ou menos imperfeitos. Há, pois, uma distinção real entre as nossas obras e as nossas potências. Vejamos agora quais são os efeitos que a graça santificante produz nas nossas obras, fruto das nossas operações sobrenaturais.

Estes efeitos são três:


1.º A graça santificante torna as nossas obras perfeitas em si mesma e em relação ao fim último. Este efeito compreende os frutos do Espírito Santo.
2.º Em virtude da graça santificante as obras perfeitas tornam-se fecundas. Este efeito é chamado mérito.
3.º As obras perfeitas, fecundas, impregnadas da virtude da graça santificante obtêm-nos a bem-aventurança.

I — Frutos do Espírito Santo

O homem assemelha-se a uma árvore. As suas ações, como diz o Evangelho, são os seus frutos. As boas obras feitas só com o auxílio das forças da natureza são frutos do homem. Os frutos do Espírito Santo exigem os socorros da graça. A suavidade que eles produzem é uma recompensa antecipada da virtude.

Saboreemos estes frutos na nossa vida cristã.

1 — Relativamente a Deus

Caridade. — A caridade é o primeiro fruto ou o primeiro até que nos une ao Senhor, segundo estas palavras de São João: «Aquele que permanece na caridade permanece em Deus e Deus nele.» (Jo. IV, 16). Sem este fruto os outros não podem ser agradáveis a Deus. O fruto divino da caridade, é digno da raiz que o germina, isto é, do Pai celeste, digno da árvore que o apresenta, isto é Jesus Cristo, digno da seiva que o perfuma, isto é, o Espírito Santo, digno, enfim, da terra que o produz, isto é, o cristão, e, em geral, da Igreja que é a sociedade de todos os cristãos. Está escrito: julga-se a árvore pelos seus frutos. (Mat. VII, 20). Reconhece-se que somos verdadeiramente de Cristo, que o Seu Espírito habita e vive em nós, se produzirmos frutos de caridade.

Gozo. — No cumprimento dos nossos deveres, na execução das boas obras em que tomamos parte, há muitas dificuldades e sofrimentos de todo o gênero; mas se o Espírito Santo, o Consolador, está em nós, suportaremos tudo com paciência, resignação e até com inteira alegria. Como são Paulo, transbordamos de alegria no meio das aflições. (II Cor. VII, 4).

Paz. — A paz é um sentimento mais profundo do que o gozo. Quando vivemos em paz com Deus, com o nosso próximo e conosco mesmo, o Espírito Santo derrama nas nossas almas a paz do Céu. Este mundo é então o Céu vivido na terra.

Estes três primeiros frutos tornam-nos pois felizes nas nossas relações com Deus. A caridade une-nos a Ele, o gozo faz-nos participar das suas delícias e a paz consolida-nos no gozo do seu amor.

2 — Relativamente a nós mesmos

I — Quanto à alma

Paciência. — E, na verdade, uma grande consolação estar em paz com Deus pela graça, mas o que torna esta paz duradoura é o fruto da paciência, fruto delicioso que suaviza as mais duras provas! Desde que sofremos com resignação cristã, diz santa Tereza de Jesus, o sofrimento acabou-se porque a suavidade de Deus satisfaz plenamente o coração.

Benignidade. — A benignidade torna a paciência graciosa, conservando em nós uma disposição para a indulgência e afabilidade. Com esta disposição não temos palavras ásperas nem modos bruscos nem nada que possa ferir a civilidade cristã.

Bondade. — A bondade é alguma coisa de mais profunda que a benignidade, esta diz respeito ao exterior, e aquela ao interior. À benignidade é a expressão exterior da bondade; a bondade é a alma da benignidade. A bondade é, pois, uma disposição para fazer bem. Animado pelo Espírito de Deus, o cristão passa através do mundo fazendo só bem.

II — Quanto ao corpo

Modéstia. — A modéstia regula, como convém, todo o nosso exterior; expressão, dos olhos, do rosto, conversação e vestuário. É preciso imitar Jesus Cristo, ou os santos que, por sua vez O imitaram fielmente. «Que a nossa modéstia, diz o Apóstolo seja conhecida de todos os homens.» (Filip. IV, 5).

Continência.—À continência regula o homem interior e consiste na abstenção dos prazeres lícitos da concupiscência da carne e da sensualidade no comer e beber. «A graça de Deus, diz São Paulo, ensina-nos a renunciar a concupiscência e a viver no século presente com temperança, justiça e piedade». (Tit. II, 12).

Castidade. — A castidade consiste na abstenção dos prazeres ilícitos da concupiscência, de tudo o que é perigoso e na prática da penitência.

A fim de produzir abundantes frutos, toda a árvore deve ser podada. Na ordem moral também isto é indispensável. «Eu sou videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Todas as varas que não derem fruto em mim tirá-las-á, e todas as que derem fruto alimpá-las-á, para que dêem mais fruto». (Jo. XV, 2).

Deixemo-nos limpar, podar pelo Pai celeste, aceitando todas as aflições que nos enviar e auxiliemo-lo neste trabalho, mortificando-nos. «Eu castigo o meu corpo, diz o Apóstolo, e reduzo-o à escravidão».

Guiai-vos pelo Espírito, diz São Paulo, e, por isso, não deveis satisfazer os desejos da carne. (Gal. V, 16). Sois templos do Espírito Santo. Glorificai a Deus no vosso corpo. (I Cor., VI, 19-20).

III- Relativamente ao nosso próximo

Longanimidade. — Muitas vezes a bondade é contrariada nas suas empresas. É, pois, necessária uma coragem perseverante nas provações da vida. E quem nos dá esta coragem? a longanimidade. Com este fruto suportamos, com constância, as provações que nos vem dos nossos semelhantes.

Mansidão. — A mansidão leva-nos a ser indulgentes para com as faltas e defeitos do próximo, de maneira que tudo o que provém de nós é envolvido em doçura e não em espinhos. Jesus Cristo tinha o Espírito da mansidão. Ele mesmo diz: Aprendei de mim que sou manso e humilde do coração.


Fé. — O Espírito Santo é o amor fidelíssimo. Quando se ama divinamente, há perfeita sujeição da inteligência a Deus e fidelidade nos deveres para com o próximo; de maneira que não se atraiçoa a Deus nem o próximo, por palavras, por atos ou pelo abandono.