domingo, 30 de junho de 2013

A CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

A CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DA HISTÓRIA
11 de Junho de 1940

Estou tratando do Sacramento da Confirmação ou Crisma. Ontem falei sobre os textos da Sagrada Escritura, referentes à imposição das mãos para que, sobre o batizado, descesse o Espírito Santo. Terminei dizendo que trataria hoje da Confirmação sob o ponto de vista histórico.

No século II, há o testemunho de São Teófilo de Antioquia, que diz: “Somos chamados cristãos porque fomos ungidos com o óleo divino”[1]. — Harnack afirma erroneamente que a primeira vez que aparece a Confirmação depois do batismo é entre os gnósticos, no século segundo. Ora, os gnósticos se distinguiam por um espiritualismo exagerado, não sendo verossímil que inventassem a confirmação, pela unção na fronte.

Santo Irineu, falando a esse respeito diz: “Também os gnósticos ungem com bálsamo”[2]. En­tende-se logicamente, pelo modo como é conduzido o assunto, que cristãos e gnósticos crismavam, sendo opinião geral, entre os autores que os gnósticos, corrompendo os ritos, copiaram dos cristãos a prática do segundo sacramento.

E quando os apologetas do século III ensinavam: "caro ungitur ut anima consecretur” — a carne é ungida, para que a alma seja consagrada há razão para crer que eles, tão amigos da tradição, tivessem aprendido tal doutrina com os seus predecessores do século II.

No século III, Tertuliano, o grande defensor da tradição, no seu livro contra Marcion, recorda que Jesus Cristo não reprova a unção dos seus discípulos com óleo. E no tratado Da ressurreição da carne, diz textualmente: “a carne é ungida para que a alma seja consagrada; a carne recebe a imposição das mãos, para que a alma seja iluminada pelo Espírito Santo”.[3]

Orígenes, comentando a epístola aos Romanos, diz: “Somos batizados pela água visível e pelo crisma visível”.[4]

Há ainda o testemunho de São Cipriano, de Firmiliano e vários outros.

No século IV a tradução continua, sem solução de continuidade. Temos o precioso documento deixado por S. Cirilo de Jerusalém. Na sua catequese 31,a, ensina que, depois do batismo, o Espírito descerá sobre os que são ungidos com o óleo sagrado.

S. João Crisóstomo nos transmite a mesma doutrina, bem como Santo Hilário de Poitiers, Santo Optato Milevitano e outros.

No século V, com igual pujança se defende e pratica a confirmação, administrada com a unção de óleo. — Cirilo de Alexandria, Teodoreto e o grande Agostinho são testemunhas valiosas da prática do segundo sacramento.

No século VI a voz de São Gregório Magno é suficiente para nos dar certeza de que o sentir comum da Igreja é a favor da existência e da prática da Confirmação.[5]

No século VII temos o testemunho de Santo Isidoro e dos Concílios de Sevilha e de Toledo. No século VIII ouve-se a palavra do notável Beda.

E assim vamos, de século em século, sempre assistindo ao desenrolar dos fatos, vendo a prática da Confirmação em toda a Igreja, — até ao século XVI, quando o Concílio de Trento declara solenemente — anatematizado todo aquele que negar a existência do Sacramento da Confirmação ou Crisma.[6]

Notas:
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[1] Pesch — Dogma — De Confirmatione — n.º 497 e Migne, Patrologia grega — t. 6 — c. 1.041. 
[2] Contra os hereges — livro I, cap. 21. 
[3] Capítulo 8.º.
[4] Comentário da epístola de S. Paulo aos Romanos, VI — 3. 
[4] Epístola ao Bispo Januário.
[6] Sessão VII, can. 1 e 2.