quarta-feira, 15 de maio de 2013

O zelo - Sacerdote

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)


           I. — Sabe, filho, que todo o Meu empenho foi sempre glorificar unicamente Meu eterno Pai e conduzir-lhe as almas.
            Viste-Me, em Samaria, enfraquecido e fatigado, sem alívio nem sustento, só por uma pobre e vil pecadora. Quanto não exultei de alegria vendo em Meus braços a ovelhinha desgarrada! o prodígio arrependido! Não recusei suores, lágrimas, sangue nem a mesma vida pela salvação de todos.

            Ah! querido Sacerdote, se Me amas, já te não digo: jejua, flagela-te; mas sim: salva-Me as almas; sem isto nada farás, nenhuma prova Me dás de teu amor. Fica certo de que nenhuma obra podes fazer, que seja mais meritória nem mais do Meu agrado[1].
            Que ânsias, que trabalhos, que perseguições não sofreram um Pedro, um Paulo, um João e tantos outros santos Sacerdotes, para Me consolar? Ainda antes do Meu Evangelho, quanto não arderam em zelo e quanto não trabalharam pela Minha glória um Moisés, um Phinees, um Elias e todos os Meus profetas? e tu, vendo Meus exemplos, solicitude e amor, não despertarás?

            II. — Fiz-te Sacerdote, não para buscares tuas comodidades, mas sim o bem das almas: foi só este o fim por que te elevei a tão alto ministério[2].
            Tu, esposo e defensor da Minha Igreja, tu, constituído anjo custódio e pai das almas, poderás ver, imóvel, precipitarem-se tantas no Inferno?! Porque não estudas, não oras, não confessas, não falas, já em público, já em particular, para arrancar ao menos alguma das garras do inimigo? Como podes viver ocioso à vista de tamanha perda de Meus e teus filhinhos?
            Dei-te poder e talentos; elevei-te até à dignidade de Meu cooperador e coadjutor na salvação das almas; e todavia serão Meus inimigos mais solícitos em perdê-las que tu em salvá-las?
            E quanto maior seria o teu crime, se tu mesmo ocasionasses a sua perdição; e ainda fosses a pedra de escândalo de tua comunidade, obstando a toda a reforma, mantendo os antigos abusos, e introduzindo outros novos?
            Lembra-te que elas Me custaram todo o Meu sangue, e que te hei de pedir estreitíssima conta. Porque quererás aumentar ainda a amargura do teu Deus na perda de tantas almas com a perda da tua?

        III. — Quem Me converter algum pecador, além de o salvar a ele, salvar-se-á também a si, e resplandecerá como estrela eternamente. Queres que te multiplique as coroas? multiplica também tu, filho, as vitórias.
            Se tão grande festa fazem no Céu os Anjos e os Santos pela conversão de um pecador, quanto não aplaudirão quem o converte?
            Ah! filho, de todas as Minhas obras nenhuma Me é tão cara como as almas, e deixarei Eu de cumular com todos os Meus bens quem mas salvar? [3]
            Oh que doces frutos? que consolação na morte! que júbilo no Céu! e não procurarás tu consegui-los?

         Fruto. — Examina se o teu zelo é abrasado pela caridade, dirigido pela ciência, e sustentado pela constância. A caridade é paciente, é benigna; não inveja o bem alheio, não é ambiciosa, não busca o próprio interesse, a vaidade, o gênio; busca o bem espiritual para si, e logo para o próximo.
            Quem não tem cuidado da própria casa, como o terá da Igreja? quem é mau para si, como será bom para os outros? Sem estudo, sem conselho e sem oração jamais chegarás a possuir a ciência dos Santos, que te torne prudente e eficaz.
            Mostra-te em tudo um digno ministro de Jesus Cristo, armando-te de muita paciência para sofrer os muitos trabalhos, o pouco fruto deles, as contínuas ingratidões, as resistências e perseguições que tens de encontrar, seguro de que serás premiado, não segundo o fruto, mas segundo tuas fadigas e penas.
            S. Esturmio, apóstolo da Saxônia  depois de tantos trabalhos e perseguições, sofridas em seu apostolado, pôde dizer na hora da morte: Em tudo quanto fiz, nunca tive outro fim, senão a salvação das almas e a vontade de Deus.

Notas: 
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[1] Non dixit Christus: se amas me, abjice pecunias, jejunium exerce, macera te laboribus, mortuos excita, daemones abige: nihil vel horum, vel aliorum miraculorum, recteque factorum in medium adduxit; sed, omnibus illis prætermissis, dixit illi: Si diligis me, pasce oves meas. (Chrysost.,De S. Philogonio, Hom. 31.) Si diligis me, pasce oves meas. (Joan., XXI, 15.) ... Ex hoc loco agnoscunt fidei magistri, non aliter se pastori Christo gratos fore, quam si omni studio caveant, ut rationales oves recte curentur, et bene habeant. (Cyril. Alex., hoc. loco.)

[2] Sumus mercenarii conducti. Sicut enim nemo conducit mercenarium, ut solum manducet; sic et nos non ideo vocati sumus a Christo, ut sola operemur, quæ ad nostrum pertinent usum, sed quæ ad gloriam Dei. Et sicut mercenarius prius respicit opus suum, deinde diaria sua; sic et nos, si Christi sumus mercenarii, primum debemus aspicere quae ad gloriam Dei pertinent, proximique profectum, deinde quae ad nostram utilitatem. Et sicut mercenarius totam diem circa domini opus impendit, unam autem horam circa suum cibum; sic et nos omne tempus vitae nostrae debemus impendere circa opus Dei gloriae, modicam autem partem circa usus nostros terrenos,... (Chrysost., Op. imp., Hom. 34.)

[3] Ideo Deus ordinat sacerdotes, ut populum evigilare faciant in operibus bonis: ideoque, bene agente populo, sacerdos pro bonis omnium remuneratur. (Chrysost., Hom. 51.) Super omnia bona sua constituit eum. (Math., 24.) Non in omnibus, sed super omnia constituitur; quasi dicat: etsi magnus est labor praedicationis, tanto devotius ferri debet, quanto majora lucra mercedis habet. (Greg., 1.º Reg., IX, 20.)