domingo, 28 de abril de 2013

O Inferno - Sacerdote

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)


            I. — Filho, tu ensinas aos outros que, por maiores que sejam as penas que podem padecer-se nesta vida, são pouco ou nada em comparação daquele fogo eterno.
            Ah! infeliz de ti! Aquele fogo, aceso pela Minha onipotente justiça, constituído conhecedor discreto da maior gravidade das tuas culpas, será muito mais cruciante e feroz contra ti, que contra os outros precítos!
            Eu te admoestei que não temesses o ferro nem a morte; mas sim que temesses aquele que podia arrojar-te, em corpo e alma, àquelas chamas [1].
           E tu, que receias incomodar-te um pouco para vencer aquela preguiça e aquele ócio, para abandonar aqueles vergonhosos prazeres; tu, que agora não podes sofrer por breve tempo uma leve dor, um pequeno estudo, um retiro, a observância dos deveres, como poderás sofrer o abrasamento de um fogo tão atroz, e o arder em chamas sempiternas?
           Eia, filho, inflama-te, abrasa-te em santo zelo pela salvação da tua alma e da do próximo, para que não venhas a ser abrasado naquele fogo indelével.

            II. — Ah! se conheceras a grandeza dos bens celestes, filho, compreenderias quão grande pena é ser privado deles para sempre! Sabe que o ser eternamente privado da Minha vista é pena incomparavelmente maior que a do fogo devorador; é pena infinita, porque priva dum bem infinito; é pena tão grande, quão grande Eu sou.
            Tu, pois, que tiveste poder de chamar do Céu à terra o teu Deus, ficarás privado, d’Ele?! Tu, que todos os dias Me tiveste e tocaste com tuas mãos, serás separado de Mim para sempre? Tu, que tantas vezes Me ofereceste a Meu eterno Pai, participaste do sacramento do Meu amor, quererás aborrecer-Me e ser de Mim aborrecido por uma eternidade?
           Entrarão no Céu tantos eleitos, justificados por ti com o Meu sangue, e santificados com o Meu corpo, que tu lhes ministraste, e tu serás como a água do Batismo que, purificando os batizados e enviando-os ao Céu, vai confundir-se e perder-se na terra?[2]
            Tu, destinado a bendizer-Me eternamente; tu, que abençoas o povo em Meu nome, terás de vomitar contra Mim horrendas blasfêmias, e terás de ser de Mim maldito para sempre? Tu, que provaste o Meu cálice de salvação, quererás beber até às fezes o cálice da Minha ira?
            E eu, que tanto Me comprazi em cumular-te de benefícios e exaltar-te, terei também de comprazer-Me em ser tua tremenda, total e eterna ruína?

            III. — Sacerdote, se desgraçadamente te condenas, quanto mais raivosa será a tua desesperação que a dos leigos!
            Então dirás: — Tive ciência de Sacerdote, recebi mais luzes que os leigos, para conhecer os meus deveres; fui exaltado a uma dignidade divina, que me impunha maiores obrigações, e, para as cumprir, também recebi maior abundância de graças e meios: mas eis que esta ciência, estas luzes, estas graças, esta mesma dignidade me ocasionaram um inferno, e um inferno muito mais cruel, muito mais horroroso que o dos leigos!
            Eu pois, condenado aos mais duros suplícios, terei de sofrer os insultos daqueles mesmos demônios, a quem outrora fui tão terrível? terei de sofrer aqueles infiéis, aqueles leigos, que receberam menos auxílios e graças que eu, e por isso mesmo deverei eu ser mais atormentado que eles?
         Ai de ti, filho, se chegas ao triste lance de se levantarem contra ti teus criados, teus amigos, teus parentes, teus penitentes, teus fregueses, e ainda uma só alma condenada, e condenada por tua culpa! Ai de ti, se tiveres de chorar o teres sido Sacerdote ou beneficiado, e houveres de desejar nunca ter nascido!
            Se te não vence o Meu amor, filho, vença-te, ao menos, o temor daqueles tormentos. Eia, tem ao menos piedade de ti! Comprazes-Me, voltando o teu coração para o caminho da santidade.

            Fruto.—Desce muitas vezes vivo ao Inferno, para não descer a ele para sempre depois de morto. S. João Crisóstomo tinha-o sempre em pintura diante dos olhos. Lembra-te que aquele servo inútil do Evangelho (ainda que se não diz que fosse sacerdote), só por não ter negociado com o talento, foi condenado às trevas exteriores.
            Exige muito a grande, imensa, infinita dignidade do teu sacerdócio; e, se te condenares, serão tanto mais intensas as tuas penas, quanto maior era a honra que te tinha sido conferida.

Notas
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[1] ... Ne terreamini ab his, qui occidunt corpus, et post hæc non habent amplius quid faciant. Ostendam autem vobis quem timeatis; timete eum, qui, postquam occiderit, habet potestatera mittere in gehennam: ita dico vobis, hunc timete. (Luc., XII, 4-5.) 

[2] Per nos quidem fideles ad regnum Dei pertingunt; et ecce nos per negligentiam nostram deorsum tendimus. Ingrediuntur electi sacerdotum manibus expiati, cœlestem patriam, et sacerdotes ipsi per vitam reprobam ad inferni supplicia festinant. Cui ergo rei, cui similes dixerim sacerdotes malos, nisi aquae baptismatis, quae baptizatorum peccata diluens, illos ad regnum coeleste mittit, et ipsa postea in cloacas descendit? Timeamus haec, fratres... (Greg., Hom. 17.)