domingo, 14 de abril de 2013

DIFICULDADES

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946


DIFICULDADES
18 de Junho de 1940  
    Estou estudando o Sacramento da Eucaristia.
Assunto de hoje: A presença real e as palavras da instituição. Dificuldades.
Como preâmbulo, lembremo-nos do que disse Jesus aos que O acompanhavam, depois da multiplicação dos pães e peixes no deserto. “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; o que crê em mim, jamais terá sede”. — Nesta primeira parte do Seu discurso, Jesus Se refere evidentemente à salvação pela fé. Os que d’Ele se aproximaram, ouvindo os Seus ensinamentos, já estão no bom caminho. Segunda vez, porém, afir­ma : “Eu sou o pão da vida... ” e logo adiante: “Eu sou o pão vivo que desci do céu... Quem comer este pão viverá eternamente... O pão que eu hei de dar é a minha carne!. .. O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia, porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida...”
Não pode haver a menor dúvida sobre a in­tenção de Jesus. Ele fala claramente de um pão que é a Sua carne e que será dado como alimento. É o que lemos no Capítulo 6 do Evangelho de São João.
Na véspera de Sua Paixão, à mesa da Ceia, no Cenáculo de Jerusalém, Jesus toma o pão, abençoa-o, parte-o, dá-o a Seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei. Isto é o meu corpo”. — Faz o mesmo com o cálice que contém vinho, dizendo: “Bebei todos deste cálice, porque este é o meu Sangue”.
Quem crê no poder de Jesus Cristo Deus e homem verdadeiro, não pode rejeitar a presença real. Os Evangelhos e o ensinamento de São Paulo são demasiadamente claros, para que se admita a menor dúvida.
O sentido literal destas palavras é preciso, nítido, verdadeiro. O sentido metafórico é con­fuso, porque é absurdo.
Jesus prometeu alimentar as almas com um alimento sobrenatural, que as conservaria para a vida eterna. Prometeu e cumpriu Sua promessa. São dois períodos históricos, com cerca de um ano de diferença, que estão em impressionante acordo. Nenhum valor tem a opinião dos que pen­sam que o divino Mestre quis dizer que o pão e o vinho eram a figura do Seu corpo e Sangue, representando-os simbolicamente. Nesse caso, qual a significação daquelas palavras já citadas: “O meu corpo é verdadeiramente comida, o meu sangue é verdadeiramente bebida?” — Para quem aceita a Bíblia Sagrada como norma de fé, como a autêntica palavra de Deus — Jesus Cristo está realmente presente na Sagrada Eucaristia.

Para muitos é difícil crer na presença real. Há contradição nos termos, dizem. Como podemos crer contra o que nos atestam os sentidos? Vemos, pro­vamos, tocamos — pão e vinho — e devemos crer no corpo e sangue de Jesus?
A filosofia verdadeira distingue a substância dos acidentes. Nos seres os sentidos percebem os acidentes e não a substância. Logo se a Religião nos propõe a crença na Eucaristia, segundo a pa­lavra de Jesus, e diz que, permanecendo os aci­dentes, a substância não é mais — pão e vinho — mas o corpo, sangue, alma e divindade de Jesus, a Religião não nos propõe um absurdo. E, como diz Santo Tomás, a fé supre a deficiência dos sen­tidos. Demais: Jesus disse. Ele é Deus. Sendo Deus, é onipotente. Sendo onipotente, opera a transubstanciação do pão e do vinho em Seu corpo, sangue, alma e divindade, para ficar perenemente conosco, de acordo com os desejos do Seu amor!