quarta-feira, 6 de março de 2013

Amor da Igreja - Segunda parte (Amor para com a Igreja Purgante)

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

II - Amor para com a Igreja Purgante (ou Padecente)

            Em virtude do dogma da Comunicação dos Santos devemos amar a Igreja Purgante e nela, sobretudo, os nossos queridos mortos. Como?

            1.º- Para com os nossos queridos mortos temos o dever da sua lembrança

A lembrança é a flor dos sentimentos. É o sinal distintivo dos corações nobres e generosos. 
            1.º- Lembrança impressionante. - Não há nada mais raro do que uma lembrança fiel. O esquecimento é uma das misérias que desonram mais a humanidade. Esquecem-se os parentes, benfeitores, amigos e os mortos. Esquecem-se depressa os mortos, mesmo os mais queridos.
            Mas se os homens os esquecem, a Igreja lembra-se sempre, e faz mais: emprega toda a diligência para que nos lembremos. Fala-nos pela voz dos sinos que nos chamam ao templo, pela voz dos cânticos graves e pela voz das cerimônias impressionantes, pela voz dos sepulcros, conduzindo-nos ao campo dos mortos. “Lembra-te, dos mortos. Memento!” (Hebr. XIII). É santo e salutar pensamento lembrarmo-nos dos nossos defuntos diante de Deus. Recordando o que eles foram, ficamos sabendo o que devemos ser, e que o Céu vale mais que a terra. A idéia da morte não nos sugere um pensamento triste, mas um pensamento grave, que pode converter-se, pela fé, esperança e caridade, num pensamento consolador. Memento! Lembra-te dos mortos.
            2.º- Lembrança afetuosa. - Todos aqueles que morreram, diz-nos a santa Igreja, não vos são estranhos, são vossos irmãos em Jesus Cristo e o amor não termina na morte, o amor que termina na morte, diz São Francisco de Sales, é um amor mentiroso. 
            3.º- Lembrança compassiva. - À Igreja diz-nos ainda: deixa esse cadáver inconsolável e acompanha essa alma que segue destinos misteriosos; todavia, se estiver no Purgatório, podes aliviá-la das penas em que está. Inclinemo-nos sobre as sepulturas e lá dentro ouviremos esta voz: Memento! Lembra-te!

2.º - Para com os nossos queridos mortos temos o dever de fidelidade

            Devemos ser fiéis aos exemplos que eles nos deram. Os caminhos que eles seguiram exalam o perfume, da fé, da caridade, da honra, da castidade, da santidade cristã, sigamos os vestígios de seus pés.
            Façamos o que eles fizeram para chegarmos onde eles estão.
            Demais, devemos ser fiéis às suas recomendações. Que nos diziam eles durante a vida? que nos disseram eles, sobretudo nos últimos momentos? Como temos cumprido o que lhes prometemos, junto do seu leito, à hora da sua morte? Se a sua voz se fizesse ouvir, certamente dir-nos-iam: Memento! Lembra-te!

3.º- Para com os nossos queridos mortos temos o dever de auxílio

            Somos católicos, acreditamos no Purgatório. Que é o Purgatório? Podemos defini-lo em três palavras: 1.º- É o estado de sofrimento. Sofrem-se aí dois suplícios terríveis; a pena de dano, ou a privação de Deus e a pena dos sentidos, ou do fogo. Podemos abreviar essa separação e apagar esse fogo. 2.º- É um estado de impotência, inteligência e de esperança. Neste mundo podem as almas alcançar merecimentos, mas não no outro. O tempo da vida foi-lhes concedido para isto e esse tempo passou, acabou. Deus, em certo modo, está na impossibilidade de lhes fazer bem. Na ordem sobrenatural. Deus tem duas espécies de bens: os bens da graça e os bens da glória. Não pode conceder-lhes os bens da graça porque não podem merecer, não pode dar-lhes a glória porque não estão suficientemente purificadas para a gozar. Para se libertarem dali ou têm de recorrer a um empréstimo ou sujeitarem-se a sofrer aí, durante muito tempo, talvez. Procuraremos nós subscrever-nos para este empréstimo que elas fazem à terra. Temos para isso à nossa disposição todos os tesouros da Igreja: a missa, a comunhão, as esmolas e as indulgências.
            Muitos cristãos têm o costume de tomar nota de todos os acontecimentos felizes ou infelizes que se têm dado na sua vida. É o calendário do coração. Aí está escrita a data do seu nascimento, do seu batismo, da sua primeira comunhão, da sua confirmação e outras datas mais íntimas ainda: a morte de seus pais, de seus filhos, de seus amigos. Estes dias são sagrados como os dos seus aniversários. Nestes dias tomar a resolução de não se preocuparem com as coisas do mundo e consagram-se inteiramente a Deus. Visitam-se as sepulturas queridas; sobretudo, visita-se Jesus Sacramentado ouve-se missa, comunga-se. É nestes atos de piedade que se ora pelo resgate dos cativos, é neste tesouro da mesa da comunhão que se encontra a libertação, ou pelo menos, o alívio dessas benditas almas.
            “Dai-lhes, Senhor, o lugar de refrigério de luz e de paz.”