Nota do blogue: Queridos(as) de Deus, ave Maria Puríssima. O blogue parará até segunda-feira próxima. É preciso se unir em silêncio ao Calvário e ali contemplar o maior ato de amor do Amor. Hoje a Igreja nos traz Nossa Senhora das Dores que encontra Seu Filho -- santo e único-- no caminho para a morte, e que encontro, dois corações unificados na dor e no amor por nós. Amanhã, Quinta-feira Santa, a Igreja traz a Instituição de dois Sacramentos: A Eucaristia e a Ordem. Na Sexta-Feira Santa, o Calvário - monte dos amantes, como dizia São Francisco de Sales, dia para na dor aprender o amor. Sábado Santo, dia de grande angústia, solidão e dor... Domingo de Páscoa, dia de laetitia! Ele verdadeiramente ressuscitará!
Segue meu singelo mas querido presente de Semana Santa para todos os amigos leitores. Unamo-nos em sacrifício e silêncio aos pés do Calvário, que nossas almas sejam verdadeiras almas eucarísticas!
Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula
O Dia Eucarístico
SACRIFÍCIO
A Alma Eucarístia
Padre Antonino de Castellammare
Capuchinho
1929
I- Dizia S. João da Cruz: —"É importante
em sumo grau que a alma se exercite no amor, para que, consumindo-se rapidamente,
não fique limitada a esta terra, mas se esforce por contemplar a face do seu
Deus”.
Porém a angélica irmã de Santa
Terezinha do Menino Jesus, acrescenta: “Oferecer-se ao Amor como vítima não
quer dizer oferecer-se às doçuras, às consolações; pelo contrário, é
oferecer-se às angústias e a todas as amarguras, porque o Amor só vive pelos
sacrifícios... Quanto mais queremos nos abandonar ao Amor, tanto mais devemos
nos abandonar à Dor." (História de uma alma—cap. XII).
Que sabedoria nas palavras do
Mestre! que exposição admirável nas palavras da discípula!
Eis por que a alma eucarística,
filha privilegiada do amor, também é (e por força) filha privilegiada da dor.
Tardamos já em dizê-lo: a Eucaristia não é somente sacramento do amor, é também
sacramento da dor. Jesus Sacramentado é o Deus da dor; Seu amor por nós é o
amor da dor.
II- Hoje um só sacrifício existe na
nossa religião, é a santa Missa, que é essencialmente o sacrifício do Calvário.
Do sacrifício do Calvário se distingue como o rio da fonte: ao sacrifício do Calvário
nada acrescenta da mesma forma que, no exemplo citado, o rio nada acrescenta à
fonte de onde brotou.
No universo, que é o grande templo
de Deus, o Calvário foi o verdadeiro primeiro altar; depois, cada altar tornou-se
Calvário. Sem Cruz, hoje não haveria Eucaristia, não haveria sacrifício. A
Cruz e a Hóstia! Ó palavras santas que resumem um único mistério de dor e de
amor!
Não se pode achar a Cruz, viva e
verdadeira, senão na hóstia; e não pode haver hóstia sem cruz.
Na Eucaristia, pois, ou na santa
Missa, o conceito da dor entra por três modos: como sacrifício em gênero; como sacrifício
da cruz; e, por fim, como sacrifício eucarístico.
III- Qualquer sacrifício não importa
somente em dor, mas em dor suprema, porque, em qualquer sacrifício, para que
seja perfeito, é indispensável que a vítima, realmente, ou, pelo menos misticamente,
se imole e se consuma. Portanto onde não há imolação ou consumação não há sacrifício.
E vice-versa, quanto mais a vítima é imolada e consumida, tanto mais o holocausto
é perfeito.
Assim, a perfeição do sacrifício se
mede pela perfeição da imolação e da consumição.
Ate quando a ovelhinha se debate e
estrebucha, até quando bála e se lamenta, recebeu o golpe, mas ainda não
morreu. Já é vítima, já seu sangue corre aos borbotões.
Mas, somente quando não se lamentar
mais, somente quando não balar mais, somente quando estiver perfeitamente
morta há de ser perfeita vítima, porque, então unicamente (consummatum est!) há de ser perfeitamente imolada e destruída.
Tudo isto é indispensável a qualquer
sacrifício, visto que dele constitui a essência; tudo isto é indispensável à
santa Missa, mesmo considerada simplesmente como sacrifício em gênero.
IV- Muito mais ainda se for
considerada como sacrifício da Cruz.
Toda a vida de Jesus já fôra uma imolação,
iniciada no momento em que, fazendo-se homem, não desdenhou o seio de uma
virgem.
Desde aquele instante, Sua imolação
cresceu e progrediu ao mesmo tempo em que os anos de Sua idade.
Sua existência inteira foi uma Missa
única, posso dizer assim: em Belém estava no Gloria; o santo velho Simeão, apertando-O nos braços, recitou o Ofertório. A entrada triunfal em Jerusalém
foi o Prefacio... Porém o momento
soleníssimo daquela Missa de trinta e três anos foi sobre o Calvário, quando a
augusta Vítima, inclinando a cabeça,
entregou o espírito...
Cristo foi sempre vítima em toda a Sua
vida; mas só quando n'Ele tudo ficou consumado tornou-Se vítima perfeita. E
tudo n’Ele ficou consumado quando se realizaram aquelas palavras a um tempo
terríveis e amáveis, que para sempre alegrarão e farão chorar a humanidade: crucifixus, mortuus est sepultus est!