quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

2.ª Coluna: Confiança em Deus

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

(As colunas de tua casa pelo Vigário José Sommer, 1938)

A confiança filial, com que em todas as necessidades e aflições nos atiramos nas mãos paternais de Deus, tem em si algo de muito honroso para Nosso Senhor e que nos traz muita felicidade. Força-O a ajudar-nos. Ou acaso "poderias dar uma pedra a teu amigo, que está passando necessidade e te pede pão, e, em lugar de um peixe, um escorpião?"
"E mesmo que uma mãe esquecesse o filho, eu não poderia esquecer-te!" - diz Nosso Senhor.
Sob o título "O destino e a humanidade", um pintor belga fez um quadro, que antes da guerra provocou grande estrepito, numa exposição de quadros em Berlim. Representava a peleja ardente, multiforme, em parte desesperada, de milhares de homens, um mar de mãos humanas, que - cada uma com o seu tormento - se erguiam, como se fossem implorar ao destino resposta e socorro. E no alto, circunfluído de raios frígidos, como disco solar, a face do destino. Embotado e mudo, frio e insensível, olha fixamente do vácuo.
Não tem um só olhar para a luta tormentosa lá de baixo. Parece-nos ouvir as maldições e ímpetos de desespero, os gritos de dor, as doces súplicas e o pranto refreado; julgamos ver os tormentos da alma, que nestas mãos se contorcem – e, entretanto a face do destino; lá no alto, permanece fria. Insensível à dor, não vê as agonias dos pobrezinhos - que pelejam e clamam em vão! - Assim podem os muçulmanos representar o, seu Kismet, o cego destino.
Para os cristãos, porém, esse quadro é uma blasfêmia ultrajante.
O cristão sabe, graças a Deus, outra coisa melhor.
Para ele há somente um Pai no céu um coração amante e bondoso, que palpita por ele.
"Nem um só fio de cabelo cai de vossa cabeça, sem que Ele o saiba". - e: "Não valeis mais que os pássaros do céu e os lírios do campo e vosso Pai celeste os alimenta e veste a todos?"
A confiança em Deus guarda e eleva também a família. Concorre para o cumprimento consciencioso e fiel do dever conjugal, dissipa as dúvidas e torna-se o esteio e amparo em toda a aflição. É uma coluna firme. Para homens sem fé e sem confiança o matrimônio facilmente se torna uma grande carga; a vida torna-se uma cruz, sob a qual mais cedo ou mais tarde caem aniquilados.
Junto ao leito da esposa cancerosa, gravemente enferma e incurável, estava o esposo a ouvir-lhe as queixas.
"Meu marido, mata-me!" exclamava a doente desesperada, - "as dores são insuportáveis”.
- "Sim, minha mulher, eu o faria, se não tivéssemos fé. Sabes, porém, - a fé no-lo diz, - que teu Salvador vive e que os sofrimentos desta vida não se comparam com a glória que se manifestará em nós".
A mulher continuou a carregar avante a pesada cruz.
Ainda no leito de morte tomou a mão do esposo e disse-lhe entre lágrimas: - "Graças a Deus que te achei na vida! Tua fé varonil susteve-me também a mim, fraca mulher."
Uma série de anos mais tarde jazia também o homem com cancro. - Era um quadro de inspirar compaixão. E sua fé? Ouvi o que ele repete continuamente, no meio do terrível sofrimento: "Senhor, quero sofrer ainda mais! Somente nada de pecado!" - E depois segura com mais força a cruz e comprime-a de encontro aos lábios ulcerados. E quando sente aproximar-se a hora da morte, faz-se levar ainda uma vez à Igreja.
Foi tarde da noite, no domingo da Páscoa, que dois possantes amigos para lá o levaram.
O velho pároco, por compaixão e admiração pelo homem, que sofria terrivelmente, tinha mandado abrir de novo a Igreja, às escuras.
À noite, já muito tarde, chegaram. "Colocai-me no chão aqui, de onde posso ver o altar!"
- Emocionados fitaram-no o sacerdote e os amigos. Então ele se levantou um pouco, amparado pelos amigos e rezou - rezou a oração fúnebre do velho Simeão: "Agora, Senhor, deixai ir em paz o Vosso servo, por que meus olhos já viram tua salvação!...”.
- Não é a santa paz da fé e da confiança em Deus, a felicidade e a força nas grandes dores? - Oh! existem ainda casais felizes! Nossa santa fé não faz somente homens santos, mas também felizes! Pois é a luz, força e vida, o sol dos espíritos!
Numa casa encontrei sobre uma porta uma ferradura, outra vez vi na parede um trevo de quatro folhas; outra vez também um porco de madeira. Tudo isso devia trazer felicidade. O que tem isso com a felicidade, é absolutamente impossível de saber: em compensação, porém, há outra coisa, que traz certamente a felicidade à casa: é o sinal de nossa santa fé, a cruz e a oração em comum diante do crucifixo.
“Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, estou no meio deles” – disse o Senhor.
Esta palavra de bênção parece quase valer mais para aqueles que no lar usam a oração em comum aos pés da cruz.