terça-feira, 10 de maio de 2011

O Coração de Maria e os Novíssimos

O Coração de Maria e os Novíssimos

           
A mensagem de Fátima manifesta o que chamamos os “novíssimos” do homem. A morte, por exemplo, se mostra como um fato inevitável, e as preocupações em torno a esta realidade adquiriam então uma gravidade especial em razão da guerra que causava tantas mortes: “Jacinta, em que pensas? E não poucas vezes respondia: “Nessa guerra que deve vir, em tanta gente que vai morrer e ir ao inferno. Que pena! Se deixassem de ofender a Deus não viria a guerra nem iriam ao inferno”.
           
O dogma do Purgatório nos é apresentado também de uma forma tremenda, no caso de uma tal Amélia: “Então me lembrei de perguntar por duas moças que tinham morrido fazia pouco tempo. Eram minhas amigas e iam à minha casa para aprender a ser
tecelãs com a minha irmã maior:

- A Maria das Neves já está no Céu?
- Sim, está. (Parece-me que devia ter uns 17 anos)
- E a Amélia? 33
- Estará no Purgatório até o fim do mundo. (Parece-me que devia
ter de 18 a 20 anos)”.
           
Mas se a morte e o Purgatório aparecem desta maneira tão viva nos relatos de Fátima, sem dúvida é o dogma do Inferno o que ocupa um lugar importante, especialmente nas experiências místicas dos videntes, e ainda de um modo mais impressionante na sensível alma de Jacinta: “Nossa Senhora nos mostrou como que um mar de fogo. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao  cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero, que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa”.
           
As crianças tinham já recebido um primeiro ensino de Lúcia. Jacinta lhe pergunta: o que é o inferno? E Lúcia responde como pode: “- É uma cova de bichos e uma fogueira muito grande (assim me explicava minha mãe) e vai para lá quem faz pecados e não se confessa e fica lá sempre a arder.

- E nunca mais sai de lá?
- Não.
- E depois de muitos anos, muitos anos?!
- Não; o inferno nunca acaba. E o Céu também não. Quem vai para o Céu nunca mais de lá sai. E quem vai pra o inferno também não.
- Não vês que são eternos, que nunca acabam?
           
Fizemos, então, pela primeira vez, a meditação do inferno e da eternidade”.
          
Lúcia se perguntava: “Como é que Jacinta, tão pequena, se deixou possuir e chegou a compreender um espírito tão grande de mortificação e de penitência?” E achava a resposta assim: “Parece-me que foi, primeiro, por uma graça especial que Deus quis lhe conceder por meio do Imaculado Coração de Maria. Segundo, pondo seu olhar no inferno e na desgraça das almas que caem ali. Algumas pessoas, mesmo as piedosas, não querem falar às crianças sobre o inferno para não as assustar. Deus, no entanto, não duvidou em mostrá-lo a três crianças, e uma de apenas seis anos, ainda sabendo que se tinha de horrorizar tanto que quase ia morrer de susto”.
          
Mas não só o inferno: o Céu entra também na mensagem de Fátima com a alegria de uns simples e inocentes pedidos infantis. Nossa Senhora responde a Lúcia que lhe pergunta de onde vem: “Sou do Céu”. E já na primeira aparição a Virgem Maria promete o Céu aos seus pequenos interlocutores, depois das perguntas interessadas, mas simples, de Lúcia:

“- E eu também vou para o Céu?
- Sim, vais.
- E a Jacinta?
- Também.
- E o Francisco?
- Também, mas tem que rezar muitos Terços”.
           
Nas últimas despedidas entre Lúcia e seus primos se estabelece um emotivo diálogo: “Chegou, por fim, o dia de partir para Lisboa. A despedida cortava o coração. Permaneceu muito tempo abraçada ao meu pescoço e dizia, chorando: - Nunca mais nos tornaremos a ver! Reza muito por mim, até que eu vá para o Céu”. Francisco diz com toda a naturalidade: “vou para o Céu”. O mesmo dizia Jacinta: “Eu vou para o Céu”. E, apesar desta certeza da salvação, as crianças continuam a sua vida de fé e de esperança como se não tivessem recebido uma graça tão grande. Deste modo até parecia que o Céu estava ao alcance das mãos: as recomendações para o Céu eram feitas como se tratasse de uma região conhecida, onde moram familiares nossos: “Saudações a Nosso Senhor e a Nossa Senhora; e dizei-lhes que sofro tudo o que queiram pela conversão dos pecadores e em reparação do Coração Imaculado de Maria”.

(Retirado do blogue: Escravas de Maria)