domingo, 27 de fevereiro de 2011

XI - Multidão


XI - Multidão


Mas até esse grande e último dia, Ele guarda silêncio. Entremos, também nós, neste silêncio do Senhor; ele é profundo, é cheio, é ao mesmo passo, esmagador e consolador.

Cada virtude de Cristo na Paixão é como um templo místico no qual se penetra por uma porta baixa e, à medida que se avança, o templo se alarga, as naves se prolongam, a obscuridade duplica a atração, a alma embrenhada perde-se nele, olvida-se.

Repito, entremos nesse grande silêncio.

Silêncio sobre mim, sobre os meus, sobre o meu passado, o meu presente, as minhas virtudes, os meus defeitos; silêncio sobre o tudo e sobre o particular da minha vida. Este silêncio conduz-nos à perda de nós mesmos. O nada se cala e não faz barulho, onde está?... Ninguém o procura.

Que de luz é preciso para saber falar! Quanta mais é precisa para querer calar-se, e calar-se realmente! A boca que se cerra, os olhos que se baixam, é a dupla porta que se fecha sobre o dileto que a gente introduz no interior para estar a sós com ele.

A solidão e o silêncio fazem tombar a última barreira entre os dois amados.

A partir do momento em que deixa o tribunal de Caifás, Jesus entra cada vez mais no silêncio

É, contudo, o momento em que pela primeira vez Ele toma contato com a multidão. Acompanhemos esse grande silêncio no meio daquela multidão volúvel, cheia de ódio. E por que cheia de ódio? Em verdade, Ele não fez mal algum àqueles que O envolvem de todas as partes.

Ainda ontem eram gritos de alegria, eram os caminhos juncados de palmas cortadas e de vestes lançadas, era o Homem em todo o percurso das estradas, a porta Dourada transporta como que sob um arco vivo de braços estendidos e de ramos triunfais entrelaçados por sobre a Sua cabeça... A multidão é ondulante e vária sem outra alma que aquela que Lhe sopram de fora. Havia muitos sopros que agitavam aquele mar e Lhe propeliam as vagas furiosas. O ódio dos sacerdotes, a inveja dos anciãos, o medo dos Sinhedritas; um sopro mais baixo: o de Satã; um sopro mais alto: a cólera de Deus.

É singular que os homens percam do seu bom-senso e da sua razão na proporção do número. Aquela multidão, composta de seres inteligentes, não passa agora de uma massa irracional e insensata. A razão individual parece perder-se, e perde-se efetivamente, na razão coletiva. Há pouco tínhamos homens, agora temos apenas uma imensa criança, trêfega, volúvel, irritável, passando do riso ao choro, gritando ao mesmo tempo o Hosana e o tolle, caprichosa no seu ódio e na sua compaixão.

E Jesus atravessa a multidão. Esta multidão será um dos agentes principais e dolorosos da Paixão. Ignora-se isto comumente: todavia, é o fundo do quadro.

Quais essas nuvens de procela, que ascendem a pouco no horizonte e acabam pelo encherem totalmente, a multidão irá engrossando do tribunal de Caifás ao cimo do Calvário, e Jesus lhe passará pelo meio.

A primeira imagem que Ele depara desse ator de papel progressivo e cruel é a turba dos soldados, o pessoal de faxina que foi prendê-lO como a um ladrão; operaram eles durante a noite, com a hesitação, a princípio, de um papel mal aprendido e a brutalidade, em seguida, de uma consciência que nada mais tem a temer. Os soldados reforçam-se logo com os criados e com as falsas testemunhas; a esses cumpre acrescentar os próprios sacerdotes, vimo-los em ação: tudo isto já é multidão.

Mas o primeiro contato verdadeiro de Jesus com o povo dá-se pela manhã, à saída do tribunal de Caifás.

Amanhecia, as ruas mal começavam a animar-se; vinham-se, entretanto, os madrugadores habituais, isto é, o pessoal de serviço, os criados, os mercadores de gêneros, e também um certo número de forasteiros, pois a cidade regurgitava destes no momento da Páscoa. À primeira vista, para aquela gente miúda como para os forasteiros, aquele homem que arrastam vivamente ao pretório, para os lados da Antônia, é um malfeitor noturno, algum vagabundo pilhado em flagrante delito: olham-no curiosamente e passam.

Entretanto, a escolta desperta a atenção: aqueles soldados, aqueles criados, ainda esquentados de vinho e de palavrões, sobretudo aqueles sacerdotes – Caifás é reconhecido – os anciãos, todo o Sinédrio... O povo pára, cochicha, indaga.

- É Jesus de Nazaré? – O famoso profeta? – Ele mesmo! Não há duvidar. – Ele, tão pálido, tão sujo, tão desfigurado, e amarrado com força?

A notícia é lançada, é ela que amotinará a segunda multidão que Jesus deparará esta mais densa e menos indiferente. À curiosidade sucedeu a admiração, e surdo rumor prenuncia uma secreta irritação contra aquele homem. Dizem que Ele quis entregar o povo à dominação romana; Ele já está julgado pelos sacerdotes... é um bruxo perigoso, um desordeiro... poderia, ao que  parece pelos Seus encantamentos e sortilégios, arruinar tudo o que nos restava de liberdade... é um desprezador de Deus, blasfemou...

Assim sobre a onda, engrossa subindo, e cobre-se da escuma do povoléu.

Depois disto, quem poderá fiar-se nos sentimentos da multidão? Todavia, que é que se não faz por essa enganadora popularidade? O aplauso do grande número tem seduzido a muitos que haviam esquecido que só o aplauso de Deus é que vale.

Jesus, Ele sentiu-Se primeiramente humilhado de Se ver obrigado a atravessar as ruas amarrado e cercado de soldados: é uma confusão natural, que Lhe não há de ter faltado. Como era de manhã, por ora há só confusão; mas, quando, um pouco mais tarde, Ele se viu arrastado pelas ruas já mais movimentadas e mais cheias, até o palácio de Herodes, a confusão redobrou, e a ela se juntou uma secreta indignação contra as falsas informações que sublevavam a multidão.

Mas foi principalmente ao sair da corte de Herodes, quando apareceu nas mesmas ruas marulhosas revestido irrisoriamente da túnica branca, e quando ouviu à volta de Si aquelas esfuziadas de riso, aquelas palavras contundentes com que O fustigavam a passagem, como a um ente degradado e malfazejo, foi então que a medida se encheu: tudo foi ferido nEle, a honra, a dignidade, a Sua doutrina tão pura e o Seu passado refulgente, que parecia esboroar-se no riso da sarjeta.

Tal como o olho da criança, o da multidão apreende eminentemente o ridículo: apraz-lhe o grotesco, porque o sacode de um riso fácil e sem fim. A delicadeza dos sentimentos morre na massa humana como o som tênue de uma lira se perde no burburinho da rua.

Ora, que mais ridículo do que a silhueta daquele taumaturgo metido naquele saco branco, empurrado para a direita, jogado para a esquerda, puxado em todos os sentidos, perdendo o equilíbrio, titubeando, já não tendo sequer aquele porte firme e ereto tão próximo da altivez que agrada a todos, mormente ao povo, debaixo das injúrias e das chalaças?

Que palavras deviam lançar-Lhe? Não o sabemos, mas sabemos que cruéis não deixaram de lançar-lhas no alto da Cruz. Pode-se, pois, facilmente conjecturar que O hajam acolhido à passagem com “gracejos tintos de sangue” (Sermão sobre a Paixão, 2º ponto), consoante o termo expressivo de Bossuet.

- Hosana ao filho de David! Deviam gritar-Lhe aos ouvidos.

- Eis o que vem em nome do Senhor! Estas palavras datavam de alguns dias apenas, toda a gente as tinha em memória. E também; - Eis aqui mais do que Salomão! Aludindo ao que Ele dissera de Si mesmo. E ainda, com quantidade de ademanes de respeito e consideração: - O Filho de Deus... o Messias!... o Filho do Deus bendito...

Há um espírito da multidão que apreende sagazmente a contradição e relembra tudo a calhar. Muitos dos que compunham aquele populacho tinham ouvido de noite as perguntas do sumo sacerdote, e não deixavam de formulá-las irrisoriamente de novo.

Aliás, tudo convidava a isso. Podiam ainda escutar-se, por trás da porta do palácio de Herodes, os ecos frementes do imenso gargalhar de toda uma tropa, de todo um grosso de cortesãos e de um príncipe tanto mais galhofeiro quanto era depravado. A ironia, o sarcasmo vagam facilmente nos lábios impuros.

Já pressente a multidão o espetáculo do Pretório e do pátio dos soldados; apinha-se, multiplica-se, converge à pressa para onde deve achar divertimento. Diverte-se com tudo: dentro em pouco rir-se-á do flagelado a se torcer sob as chicotadas como o verme debaixo dos pés, e do coroado de espinhos solenemente exibido em público. Ademais, a veste branca é o prenúncio do manto escarlate. Doravante nada será poupado ao vencido. Acabam de arremessá-lO ao vórtice da multidão como um galho seco e sem seiva: nada mais há a esperar quando uma vez se caiu no desprezo da multidão: não se torna a subir de tão baixo.

Outra faceta ainda mais humilhante, talvez, desse desprezo popular não foi poupada a Cristo. Foi a decadência aos olhos de entes conhecidos e até amados.

Ser desprezado por uma mansa pululante que nos ignora e que nós ignoramos, certamente é uma ferida profunda para a nossa honra; sê-lo, porém, como o foi Jesus, por um povo que O conhecia, que O aplaudira e que queria fazê-lO Rei!... Passar coberto de lama, de borra de vinho e de escarros pelo meio daqueles milhares de Galileus – conterrâneos – chegados para as festas pascoais na cidade e postados de todos os lados... ver-se desmoronar não já apenas no espírito de alguns discípulos amedrontados, mas no de todo um povo escandalizado... assistir pessoalmente a essa decadência progressiva e sem esperança de reabilitação: esta humilhação era uma flecha aguda, escolhida, afinada, da justiça divina. Sentiu-a Cristo revolver-se-Lhe nas chagas do coração.

Se o mesmo dardo humilhante nos vara, miremo-lo com amarga consolação embeber-se-nos na alma, saboreemos uma ferida igual à do pobre Jesus.

Há poucos eleitos, poucas testemunhas de Cristo, que não tenham tido de sofrer desta flecha de escolha. Se não a tinham assaz ao grado do seu amor, a si próprios a proporcionavam, repletos de santíssima avidez. Um Santo Inácio ia humilhar-se aos pés de um confessor de quem era conhecido, repetindo-lhe a dolorosa confissão das suas faltas. Um Lacordaire entrava, por gosto, em particularidades supérfluas, mas que o cobriam de confusão, perdendo assim voluntariamente a sua reputação íntima, para melhor imitar Jesus perdido na de toda uma multidão em delírio.

Quando uma alma há uma vez provado os desprezos de Jesus, quem pode contê-la de correr atrás do dileto que vai na frente coberto da veste fúlgida das suas longas humilhações?

Neste drama da Paixão, desde que a multidão entra em cena, aduz-Lhe a Sua confusão, a Sua irresistível pressão: há que contar com ela. Verdadeiramente, é bem, por instantes, o principal personagem. Pilatos dialogará com ela como com um só e poderoso interlocutor. Breve, já não serão injúrias que sairão daquela boca terrível, porém intimações, insolentes e brados de morte. É ela quem decide. O tolle faz pender a balança, e, se esta balança parece, apesar de tudo, inclinar-se para a inocência de Jesus, lança-lhe ela primeiramente Barrabás. Non hunc sed Barabbam. Tolle, tirai-o. Eis que agora é a Cruz: Crucifige, crucifige eum. Isto não basta, o prato ainda torna a subir. Lança-lhe ela então o medo de César.

- Se não O condenas, não és amigo de César, brada ela a Pilatos. Desta vez o prato toca terra. Jesus segue toda a cena, ouve-se passar todas as bocas, por todas vê-se repudiar: sobe, desce, ei-lO salvo, ei-lO perdido; a multidão é quem tem a última palavra.

O papel dela prossegue assim até o Calvário. Ali naquele cimo lúgubre, tudo é baralhado e confuso. A multidão é então aquele povo que passa meneando a cabeça, são aqueles sacerdotes que apodam, aqueles soldados que jogam insolentemente a veste de Cristo: uns bebem, outros riem, as santas mulheres choram. João está consternado, Maria conserva-Se de pé.

Jesus murmurou: Perdoai-lhes. Os ladrões insultam e blasfemam. As trevas cobrem pouco a pouco aquelas cenas diversas. E, no meio dessa sombria trama, lá do alto Deus desenreda todos os fios: já vê o centurião genuflexo, ouve o ladrão que confessa e implora Cristo; salva uns e enjeita outros; em verdade, o mundo há mudado? Cessaram os justos de sofrer e de ser misturados aos maus? E, de Seu lado, deixa Deus de escolher e de tomar para Si os Seus eleitos?

(A Subida do Calvário, pelo Pe. Luís Perroy. S. J, tradução de Luís Leal Ferreira, III edição, Editora Vozes)

PS: Grifos meus.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

II - A AGONIA NO JARDIM

II - A AGONIA NO JARDIM


Torrentes iniquitatis conturbaverunt me.


As iniqüidades do mundo inteiro, como rios transbordados, precipitaram-se no mar do Meu coração.

O ideal do Amor, enfim, contente, repleto de venturas, satisfeito, eis a Agonia no Jardim: o primeiro, o maior e o mais misterioso dos episódios da Paixão.

O primeiro, porque na ordem do tempo, de modo exterior e visível, ele a começa; o maior, porque ele reitera todas as imolações do Homem-Deus, desde o primeiro vagido do Presépio até ao derradeiro gemido do Calvário; o mais misterioso, não só porque ele antecipa todos os sofrimentos corporais da vítima, mas também porque, onde os olhos da carne não vêem mais que uma luta, um combate, uma agonia, os olhos iluminados da fé contemplam a suprema ventura do Amor.

Eu vos disse anteriormente que, obra de Deus, a Cruz é a obra prima da alegria.

Obra de Deus neste sentido: conquanto os opróbrios, as ignomínias, os sofrimentos todos de Jesus Cristo fossem resultado da perversidade judaica, verdadeiros pecados do povo deicida, o Filho de Deus ab-oeterno aceitou-os, ab-oeterno resolveu tirar da iniqüidade a Sua glória, convertendo em instrumentos de Seu triunfo as humilhações da Sua Paixão.

Foi voluntariamente que Jesus Cristo Se sacrificou: oblatus est quia ipse voluit.

Sob este ponto de vista, portanto, a Cruz é obra de Deus, e obra prima da Alegria, porque Deus é uma imensa alegria, que se comunica a todas as Suas criações, e, pois comunicou-Se também à humanidade santa do Verbo, perfeitamente feliz e bem-aventurado em todos os instantes da Sua existência terrestre.

A Agonia no Jardim não foi por isso, apesar de todos os sofrimentos, menor que a suprema ventura do Amor.

O Amor! Ele é a seiva do universo; a energia atrativa de toda a criação; circula no ramo vive na flor, no pássaro, no inseto; produz e perpetua a vida.

Diz um antigo hino grego: “O Eterno disse ao Amor: que tudo se organize; e tudo se organizou!

Se no mundo físico o amor é o pólo da criação; no mundo moral é a alma do gozo, a vida da alegria. Sem dúvida, na sua verdade e pureza, o amor é raro, como é raro o gênio, raro o heroísmo, rara a formosura, raro tudo que se aproxima da perfeição. Ainda assim, na vida ele é para nós o tipo supremo da felicidade.

Falando do espírito das trevas, dizia a maior contemplativa do nosso tempo, Teresa de Jesus: “desgraçado! Ele não ama!” Eis como que o sinete da desgraça: - não amar.

Não há no céu, nem na terra, diz o livro da Imitação, coisa mais doce, mais forte, mais sublime, mais ampla, mais deliciosa, mais completa nem melhor que o Amor.

Esse amor de que nos fala o sublime poema monástico nasceu de Deus e não pode, como o mesmo poema acrescenta, descansar senão em Deus, elevando-se acima de todas as criaturas.

Não obstante, quaisquer que sejam as vicissitudes e imperfeições da humanidade, são muitas na terra as venturas do amor satisfeito: impossível seria o enumerá-las.

Vede: gozar, possuir uma alma, mesmo na ordem da natureza; mas é sublime! O que será possuí-la na ordem sacramental, divina?! Perguntai-o a ardente felicidade do coração juvenil, recebendo junto ao altar, das próprias mãos de Deus, um coração que para todo o sempre se engasta no seu!

Apertar em seus braços, revestido de sua carne, palpitante de seu sangue, o primeiro fruto de suas entranhas: que ventura! Perguntai-o a mãe fascinada pelos encantos do seu recém-nascido.

Imortalizar na ciência, na arte, na poesia ou na religião – uma idéia que aprendeu a verdade, um pensamento que atingiu o belo, uma inspiração que traduziu o amor, uma palavra que revelou Deus: que inefável ventura! Perguntai-o ao sábio, ao artista, ao poeta, ao apóstolo. Libertar uma raça, regenerar um povo, reconstruir uma pátria: que ventura tão grande! Perguntai-o ao filósofo, ao estadista, ao guerreiro.

Pois bem: a alegria de todas as almas humanas, o prazer de todos os corações satisfeitos, a delícia de todos os amores: amor maternal, amor conjugal, amor fraternal, amor da pátria ou da humanidade; todas as venturas do gozo mais requintado: - o das lágrimas que os Santos derramaram nos seus delíquios, o da pureza que as virgens sentiram no seu corpo imaculado, o do sangue que os mártires derramaram em testemunho da verdade, - todas as venturas do coração humano reunidas são infinitamente menores que a ventura de Nosso Senhor na agonia do Jardim.

É aqui, na verdade, que Ele exteriormente, com inflamada caridade e intrépido valor, dá começo à Sua Paixão. É aqui que a parte inferior da Sua natureza parece inválida por indizível tristeza; e os açoites, os opróbrios, as bofetadas, as zombarias, as blasfêmias, a morte de Cruz – tudo isso que Lhe iam dar os Judeus com tanta vivacidade  o penetra que Ele já suporta todos esses males, e geme, e treme, e perde as cores e as forças, e como que se Lhes esgota a vida.

Ei-lO prostrado, com a face em terra, em agonia!

Trinta e três anos passaram sobre a Sua cabeça. É agora um homem em toda a força da idade.

Muitas vezes mostrou-Se fatigado. Fatigado quando, junto ao poço de Jacob, pedia à Samaritana um pouco dessa água, que Ele próprio criou.

Fatigado quando, nos dias do Seu penoso ministério público, refugiava-Se entre os rochedos.

Nunca, porém, tão fatigado como agora em que uma santa impaciência O domina: a de não poder esperar algumas horas o Seu desejado sacrifício.

Dentro de poucas horas, Ele será batido, flagelado, coberto de ignomínias, crucificado; o Seu sangue será derramado como água.

Ele, portanto, crucifica-Se a Si próprio, num martírio mais misterioso que o do Calvário. Antecipa a Sua Paixão. Reveste-Se de todos os pecados tão numerosos, variados e enormes de todos os homens. Cobre-se deste medonho vestuário que O inflama e queima como uma túnica de fogo.

Treme, todo penetrado do mais horrível dos terrores.

Todos os crimes do espírito; todos os crimes do coração; todos os crimes dos sentidos; todas as loucuras do mundo; todas as orgias da humanidade; o orgulho de todas as inteligências; a luxúria de todas as imaginações; todas as aberrações da ciência; todas as profanações da arte; todos os adultérios da poesia; todos os sacrilégios de todas as religiões, a ambição dos despostas; a tirania dos governos; os atentados da política; as iniqüidades da justiça; os abusos da filosofia; as violações da Moral; todos os escândalos do mundo; as abominações de Sodoma e Gomorra; as prostituições de Babilônia; as bachanais da Grécia; a ambição, a loucura, as crueldades de Roma; a idolatria de todos os povos pagãos; as perversidades da nação judaica; as iniqüidades de todos os povos modernos; as perfídias de todas as monarquias; as mentiras de todas as repúblicas; a hipocrisia das democracias; as imposturas da liberdade – todo este peso enorme oprime a cabeça de Jesus Cristo na Agonia do Jardim, enche de confusão a Sua alma e de amarguras o Seu coração!

É assim, desfigurado, que a Justiça Eterna O contempla, como Holocausto vivo que se Lhe oferece pelos crimes de todas as pátrias, também da nossa: - de todos os pecados privados de públicos do Brasil, das iniqüidades de seus magistrados, do ateísmo político de seus estadistas, das apostasias de seus governos, do paganismo das suas escolas, da irreligião prática de seus lares, da impiedade dos seus parlamentares, do ceticismo de seus jornais, da ignorância religiosa dos seus mestres, da apatia e dos sacrilégios dos seus padres, do seu repúdio oficial da fé católica; de todas as loucuras do espírito revolucionário que invadiu as plagas de Santa Cruz e não deixou entre a monarquia e a república solução de continuidade!...

Onde, me perguntareis agora, numa agonia tão grande que não há, para exprimi-la, nas línguas humanas, termos nem frases; onde ver a ventura de Jesus Cristo?! Por todos os poros de Sua carne desfiam gotas de sangue que inundam a Sua fronte, banham as Suas faces, molham os Seus cabelos, cobrem os Seus olhos, enchem a Sua boca, maculam as Suas barbas, tingem o Seu vestuário, e avermelham mesmo as oliveiras do Jardim!

Que agonia dolorosa e profunda!
Que sofrimento inaudito!

Pois bem: onde os olhos da carne vêem a fraqueza, os olhos da razão, iluminada pela fé, vêem a força. Esta luta, diz S. Ambrósio, não é a luta de Jesus Cristo no temor da Sua Paixão; mas no desejo inflamado de no-la aplicar. É a luta entre dois atributos de Sua própria natureza divina: a justiça e a misericórdia. A Justiça, que representa o Pai, parece dizer, inflexível a Jesus Cristo: “Separa a tua causa da dos pecadores; deixa-Me derramar a Minha cólera sobre a posteridade proscrita de um pai culpado”. Mas a Misericórdia, que representa o Filho, parece responder ao Pai: “Não, nunca! Eu não deixarei de combater, de sofrer, de chorar até que os pecadores sejam postos no Meu lugar, sejam perdoados em Mim. Eu aceito sobre os Meus ombros o peso das suas faltas; Eu incorporo-os todos; Eu me revisto do opróbrio de todos os pecados; Eia, corram todos eles; entrem como torrentes transbordadas, no mar do Meu coração. Como todos os rios se precipitam no mar, as iniqüidades no mundo inteiro precipitem-se sobre a Minha alma; e, assim como o mar absorve todas as águas, que o Meu coração afogue todos os pecados.”

E a justiça emudece! A misericórdia triunfa! Oh! suprema ventura do Amor.
Era isto o que Ele desejava desde o presépio.

A Sua agonia não é, portanto, dizem os padres da Igreja, uma luta entre o espírito e a carne, entre a vontade divina e a vontade humana. Não é uma repugnância pelo sofrimento: é uma santa impaciência do amor.

Qual de vós, se pudésseis, para verdes a pessoa que amais, não transformareis em olhos todos os membros de vosso corpo?!

Dois olhos também não bastaram a Jesus Cristo, diz um ilustre doutor, para chorar a desventura possível dos que Ele ama: transformou em olhos todos os poros do Seu corpo, pelos quais, transformadas em sangue, correram as Suas lágrimas!

Mas, se é assim que Jesus Cristo nos ama, ao ponto de se revestir dos nossos pecados, como Seus próprios; sofrer as humilhações deles; experimentar o desgosto e o terror que eles inspiram e a contrição correspondente à sua enormidade; que loucura não é a nossa se desprezamos tamanho amor?!

Ele tomou a responsabilidade da pena; mas não a malícia da falta.

Tomou a superfície, a aparência, mas não a natureza, a substância do pecado, que não perverteu a Sua vontade, nem maculou a Sua inocência.

É preciso, portanto, que nos associemos às Suas lágrimas e às Suas dores; que demos a nossa o suplemento da Sua contrição.

Se a simples aparência do pecado tornou-Lhe tão severa a justiça do Pai, que severidade não merece em nós a realidade do pecado?!

Se, portanto, desde mistério não tiramos como ensino o ódio do pecado, e o desejo de repará-lo pelos méritos de Jesus Cristo, de nenhum proveito nos pode ser a Sua mediação.

Esta foi a mais heróica que o Amor nos podia dar. Para resgatar o mundo, Deus não precisava derramar o Seu sangue; podia fazê-lo por uma infinidade de meios que não alcança a nossa imaginação. Entretanto, a efusão de Seu sangue pareceu-Lhe o meio mais condigno da Misericórdia, e o mais capaz também de enternecer os nossos corações. Ainda mais: uma vez decretado que a redenção se fizesse pelo sangue, uma gota, sem dúvida, do sangue divino bastava, pelo seu mérito infinito, para remir este e todos os mundos possíveis. Que digo eu?! Uma gota de sangue?! Bastava uma lágrima, um suspiro, um gemido, uma simples súplica de Jesus Cristo. Entretanto, derrama-o com prodigalidade, em diversas e abundantes efusões: na Circuncisão, que foi como que a impaciência do precioso Sangue; na Agonia, que foi a antecipação da Paixão; na Flagelação, que foi o sangue de Deus dado em espetáculo à cidade e ao povo; na Coroação de espinhos, que foi o tributo pago pela cabeça divina aos pensamentos inefáveis da salvação; no Caminho do Calvário, que foi os esposais do Precioso Sangue com a Cruz; no Calvário, que foi o Seu consórcio; na abertura do Sagrado Coração, que foi o testemunho póstumo do amor de Jesus Cristo, derramando Seu sangue ainda depois de morto

Ora, como diz brilhante teólogo, não há superfluidade, nem ornamentos vãos nas obras de Deus. Se Ele, portanto, derramou o Seu sangue com tanta prodigalidade, é que a nossa condição o exigia, e neste sentido o Precioso Sangue, tão necessário à onipotência divina para salvar o mundo, o era, entretanto, a Sua misericórdia, e a nossa miséria, tão enorme que foi preciso o Precioso Sangue, como um oceano transbordado, alagasse o mundo e viesse até as nossas almas por esses sagrados canais que se chamam os sacramentos: o Batismo, que não é senão o precioso Sangue dando a uma gota d’agua o poder de operar uma revolução espiritual maior que todas as criações do mundo material; a Penitência, que não é senão a aplicação autêntica do Precioso Sangue sobre a cabeça do pecador arrependido; o Matrimônio, que não é senão a figura do casamento do precioso Sangue com a Igreja; a Confirmação, que não é senão o vigor do precioso Sangue comunicado pelo Espírito Santo; a Extrema-Unção, que não é senão o Precioso Sangue  dando ao óleo o poder de fortificar o moribundo; a Ordem, que não é senão o coração terrestre, o vaso que guarda o precioso sangue; a Eucaristia, que não é senão a ubiqüidade do Precioso Sangue, multiplicado em milhares de hóstias e milhares de cálices!

E que seria o mundo sem o sangue de Jesus Cristo?

O mundo seria insuportável, a vida sem esperança, as desgraças sem consolação.

Quaisquer que sejam as pretensões da ciência; qualquer que seja a presunção do espírito moderno; é o sangue de Jesus Cristo que detém suspensa sobre o mundo a cólera divina; que permite ainda a humanidade, no meio de tantos erros, calamidades e tristezas, algumas felicidades no seu exílio.

Vinde; vinde vós todos, espíritos modernos, inchados da vossa filantropia, que pretendeis dar aos homens testemunhos ainda não vistos de fraternidade, sempre prometida, nunca realizada pelas vossas ciências, pelas vossas filosofias, pelas vossas políticas; vinde ver, vinde aprender na Agonia do Jardim como se ama a humanidade.

E vós também, falsos profetas, Messias impostores do século 19, que prometeis aos povos novas religiões, e os quereis convencer de que eles devem esperar maiores e melhores provas de amor de Deus; vinde ver na Agonia do Jardim se o amor de Jesus Cristo pode ser excedido!

Vinde vós todos, também, espíritos modernos, que na tragédia, no drama, no romance, na música, na pintura ou escultura, tendes alimentado a ardente ambição de ver realizado na terra o ideal do Amor; vinde – vinde vê-lO realizado na Agonia do Jardim!

Tudo o que a imaginação pode conceber; tudo o que o coração pode desejar; tudo o que a alma humana pode sonhar – ei-lo realizado!

Todas as ciências, todas as literaturas, todas as artes não podem traduzir um ideal igual.

A Agonia no Jardim é a última palavra do amor.

É o sacrifício completo, não imposto por uma força exterior, pelas prevaricações da justiça, pela crueldade dos judeus, pela brutalidade dos carrascos, mas pela própria vontade da vítima.

É a vitima sacrificada pelo gládio inflamado do Seu próprio amor.

Jesus Cristo tinha dito que o Seu sacrifício seria voluntário: voluntarie sacrificabo tibi.

Pois bem; o que no Calvário, diz um padre, poderia parecer resultado de vontade exterior, no Jardim mostra-se como o resultado da própria vontade de Jesus Cristo.

Ali, nem tormentos, nem golpes, nem feridas.

A traição de Judas, a injustiça de Pilatos, a crueldade dos carrascos não têm parte no sacrifício. Nenhum delito desonra tão grande sacramento; nenhuma infâmia macula uma oferenda tão pura; nenhuma boca escarnece tão divina imolação.

O amor é a Sua própria vitima, o Seu próprio altar, o Seu próprio pontífice.

E o sacrifício de Jesus Cristo é completo; porque Sua vontade é o instrumento que Lhe abre as veias, Sua santidade é o altar onde corre o sangue, e o amor é o pontífice que O oferece ao Pai!

 (A Paixão, pelo Padre Júlio Maria de Lombaerde, Cruzada da Boa Imprensa - Rio, ano de 1937)

PS: Grifos meus.

Cantiga 8 "A Virgen Santa Maria"

Cantiga 8 "A Virgen Santa Maria"


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

I- A LOUCURA DA CRUZ

I- A LOUCURA DA CRUZ


Nos stulti propter Christum

Verdadeiramente, nós somos loucos, mas loucos de amor por Jesus Cristo

A obra prima da alegria é a Cruz de Jesus Cristo. Esta cruz, que aos olhos do século parece não ser mais que o símbolo da tristeza, do sofrimento e da dor, é, na realidade, o requinte da ventura; e essa loucura de que fala o apóstolo São Paulo, a do cristão que procura assemelhar-se a Jesus Cristo e por Seu amor se torna como que louco, essa loucura é verdadeiramente o supremo arroubo da felicidade.

Sei, o século não entende assim: um Deus flagelado, ferido, ensangüentado, crucificado, morto, parece-lhe um símbolo absurdo. O homem que o cobre de beijos e lágrimas, que pelo repúdio de sua vaidade e de seu orgulho, pela renúncia de suas paixões, que procura reproduzir em si a Cruz de Jesus Cristo, parece-lhe o cúmulo da loucura.

Que importa, porém, os pensamentos do século?! Se na terra já houve uma alegria completa e inefável, a do Amor Crucificado; se as criaturas humanas já foi dado algum antegosto da felicidade, que ardentemente desejam, elas o acharam no contato com Jesus Cristo.

O mundo físico tem muitas alegrias: a vida, a saúde, a força, o espetáculo das cenas variadas da natureza, o aspecto das montanhas, a extensão dos mares, a beleza das planícies, os brilhos do sol, os próprios ruídos da tempestade são fontes de prazer para o homem.

O mundo intelectual tem muitas alegrias: o simples exercício das faculdades do espírito, a rapidez, o fluxo e o refluxo dos pensamentos, os encantos da poesia, as harmonias da música, os atrativos da forma e da cor, a pintura, a escultura, a arquitetura são para o espírito e o coração do homem fontes de emoções deliciosas.

O mundo moral tem muitas alegrias: o amor da família, da pátria, da humanidade; as tranqüilas afeições do lar; os afetos ardentes da juventude; as profundas meditações da idade madura; uma grande esperança que se alimenta; uma grande vitória que se conquista - tudo isso é para o homem perene, inesgotável manancial de alegria.

Pois bem; resumi numa só as variadas alegrias do mundo físico, as alegrias variadíssimas do mundo intelectual e moral; resumi num só todos os gozos puríssimos da inteligência, todos os prazeres mais delicados da imaginação, vós não tereis senão uma pálida sombra desta infinita alegria que se chama - a Cruz.

Strauss escreveu:

- "A Cruz com um Deus morto pelos pecados dos homens é para os crentes não somente o penhor visível da redenção, mas também a apoteose do sofrimento. É a humanidade na sua forma mais triste, com todos os seus membros dilacerados e quebrados; a perfeição do cristão e a maldição do mundo. A humanidade moderna, satisfeita de viver e operar, não pode mais achar em tal símbolo a expressão de sua consciência religiosa; e conservá-lo na Igreja é acrescentar mais uma razão às muitas que já o tornam incapaz de existir. A Cruz é um anacronismo, um sinal de decadência e caducidade".

 
Que ignorância! A Cruz, o poema predileto da humanidade, é o símbolo que se encontra ainda nos lares, em milhares de corações e em todos os túmulos; a Cruz é o alívio do desventurado, a esperança do moribundo. Na alegria ela enternece; na tristeza ela consola; até mesmo no cemitério, nas sombras da morte,  a Cruz é um penhor de vida!

Mas a humanidade ama ardentemente o gozo e o prazer; de fato, ela não procura senão a felicidade. A Cruz, portanto, é só aparentemente a apoteose dos sofrimentos; e a maior das felicidades humanas é a dos corações crucificados.

A Cruz é a obra prima da alegria, porque ela é obra de Deus, e Deus é alegria infinita; e compreende mal a criação, mesmo depois da queda primitiva, quem supõe que a dor representa nas obras de Deus mais que um papel secundário.

No mundo físico não é a dor que prepondera: ninguém pode descrever o número, a grandeza e magnificência de suas alegrias, que envolvem o globo inteiro.

No mundo moral, sem dúvida, existe a dor; mas ela procede da prevaricação do homem, e não de Deus, cuja bondade aponderou-se dela, transfigurou-a, e de tal sorte transformou-a, que a dor tornou-se para o homem, na condição em que ficou colocado depois da queda, uma condição da alegria.

É uma alegria a dor que o homem sente vendo o que há de irregular no mundo físico, de trágico e triste no mundo moral. É uma alegria a dor do arrependimento, a contrição dos pecados, a resignação na desgraça, a paciência no infortúnio, a conformidade com a vontade de Deus em todos os estados e condições da vida. É pela dor que a criação reassume a sua alegria; e por isso a dor entra em tudo que há de dramático e patético na vida humana; e por isso glorificar a dor é uma das mais altas funções da música, da pintura e das escultura; e por isso para a humanidade nada tem interesse real se não tem alguma relação com  a dor; e por isso a dor é verdadeiramente para  a vida de cada homem uma condição necessária de sua alegria.

Onde, porém, perguntareis, colocar a alegria numa vida como a de Jesus Cristo? Onde ver a alegria naquela Cruz?! Pois a Paixão do Homem-Deus não foi o sumo da dor, e por consequência exclusão de toda alegria?!

Sim; a Paixão de Jesus Cristo foi uma dor real, completa e tão vasta que abrangeu toda a Sua vida, desde o primeiro vagido do Presépio até ao derradeiro gemido do Calvário. É só aparentemente que se distinguem o berço do menino Deus e a Cruz do Varão de dores; na realidade se confundem a manjedoura de Belém e o monte Calvário. Para o menino, pela ciência completa de Sua alma e o pleno uso de sua razão, a previsão de Seus opróbrios e ignominias, de Seus sofrimentos e de Sua morte era já uma paixão substancial.

Se as dores físicas da Paixão não Lhe torturavam já os músculos, os nervos e a carne pela vivacidade da Sua previsão dava-Lhe um horror e tremor correspondentes. Aliás, os sofrimentos da santa infância, agravados pela fraqueza física e a impossibilidade voluntária de as fazer conhecer, foram em Jesus Cristo dores físicas perfeitas. Quanto as dores morais, a santa infância é em toda a realidade o começo da Paixão: o presépio é o Calvário que começa.

Exterior e interiormente, Nosso Senhor sofreu desde o primeiro instante de Sua vida terrestre. Derramou lágrimas, sentiu frio, fadigas, terrores, o desprezo e a perseguição dos homens, e todos os tristes resultados da pobreza e do silêncio a que voluntariamente se condenou. Nasceu fora dos muros de uma cidade, súdito de um imperador romano; ainda menino, teve necessidade do exílio para escapar ao furor de um déspota; os elementos, que Ele próprio tinha criado, o sol, o vento, a chuva, molestaram o Seu corpo infantil; a Sua infância reuniu todas as condições da pobreza, e o pleno uso de Sua razão, a plena ciência de Sua alma, sem dúvida Lhe tornaram penitências cruéis todas as fraquezas que em nós são o resultado do pecado, mas nEle eram os mistérios da Encarnação.

A vista interior que Ele tinha dos pecados de todos os homens; de suas perfídias e ingratidões; das vicissitudes de Sua Igreja; dos combates improfícuos do Amor Divino pela salvação de tantas almas que recusaram, que recusam e que hão de recusar tantos testemunhos da Sua misericórdia, aumentavam sem dúvida, esses sofrimentos exteriores da santa infância.

Onde, portanto, ver a alegria numa existência tão atribulada e na qual ainda mesmo os sofrimentos futuros não eram simples profecias, eram já uma paixão substancial?!

Pois a alegria está ali, a maior das alegrias que tenha feito na terra palpitar um coração.

A todos os instantes, desde o Presépio ao Calvário, durante mesmo o abandono na Cruz, e não obstante todos os sofrimentos da Paixão, Jesus Cristo era bem-aventurado, era perfeitamente feliz, Sua alma palpitava de alegria.

Parece-nos impossível no coração de Jesus Cristo a harmonia de uma tão grande alegria com uma tão grande dor; mas isso somente porque não compreendemos as operações das duas naturezas - divina e humana- numa só pessoa, nem compreendemos a dupla vida de viajor e compreensor que a alma de Jesus levava na terra.

Mas a razão esclarecida pela teologia nos diz que a alegria em Jesus Cristo não foi menos real que a dor.

A dor teve uma revelação exterior - a Paixão; e por isso vemo-la melhor.

Como, porém, poderemos compreender a vida de Jesus Cristo sem a alegria?

Ele era na terra o próprio Verbo revestido da nossa natureza; era o próprio Deus, e não podemos compreendê-lO senão como uma imensa alegria.

Deus é a bem-aventurança, a perfeição, a felicidade, a alegria; e o Verbo de Deus não é senão a infinita alegria do Pai substancial e perfeitamente reproduzida no Filho, unidos ambos por um amor substancial, que não é também senão um coninfinito de alegria.

Mas, se Deus é alegria, tudo que procede de Deus não pode ser senão a alegria.

A criação foi a primeira efusão da alegria; a redenção a segunda, porque a redenção não se fez senão para que o mundo reassumisse o seu destino primitivo.

Sendo o Verbo o próprio Deus e sendo Deus uma infinita alegria, esta alegria que se comunica a todas as Suas obras comunica-se também à Sua humanidade santa.

Que inefáveis alegrias as do Verbo encarnado!

Alegria da perfeição da Sua humanidade; do pleno uso da Sua razão; da perfeita ciência da Sua alma; da Sua soberania e realeza sobre a criação; da completa visão que Ele tem de Deus; da perfeita adoração que Lhe presta; do Seu amor pela Mãe Imaculada que Ele próprio criou; pelos homens Seus irmãos, que veio resgatar; pela Igreja, Sua noiva, que veio esposar; pela própria Cruz, que, desde o primeiro instante da Sua vida terrestre, plantava com gozo inefável no centro do Seu coração, como o símbolo da Sua vitória e o emblema da redenção!


O Criador no seio da Sua criação! Um homem perfeito compreendendo todas as leis do mundo físico, todos os mistérios do mundo moral!

Uma alma humana tendo a visão de todos os enigmas do universo; de todas as vicissitudes da humanidade! Nada Lhe sendo desconhecido no passado, no presente, no futuro!

Ele vê todos os séculos futuros; vê o combate improfícuo de todas as civilizações contra a Sua Cruz; vê o desenvolvimento sucessivo e completo da Sua obra, as Suas vicissitudes, os seus triunfos; vê em toda a série de idades os Seus milhões de adoradores; os milhões de súditos de Sua Mãe; vê a vitória decisiva e final da Sua Igreja; vê, enfim, glorificada a nova humanidade, de que Ele foi o Salvador!

Que alegrias inefáveis! Que júbilo infinito!

Por isso é feliz nas Suas próprias dores; por isso Ele encontra a alegria na própria presciência de Sua Paixão; por isso, ávido, como Ele próprio o dizia, pelo batismo de sangue, na Agonia do Jardim, antecipa o Seu sacrifício e na Cruz do Calvário sacia a sede do Seu amor!

Vede: a Cruz, que aos olhos do século parece não ser mais que um símbolo de tristeza, é, entretanto, a obra prima da alegria; e, portanto, a maior das felicidades humanas é essa loucura de que nos fala São Paulo.

O século sempre entendeu esta loucura erradamente, servindo-se dela para zombar da fé, caluniar o cristão e apresentá-lo como o refugo da natureza humana, cuja ciência consiste em bestializar a inteligência, obliterar o sentimento e atrofiar o coração.

Nunca foi esta a doutrina da Igreja, que, bem longe de assim entendê-lo, quando, no século 17, homens saídos de seu seio, mal interpretando as palavras do Apóstolo, fizeram uma guerra encarniçada à ordem natural, à razão humana, ao desenvolvimento da inteligência e às necessidades legítimas do coração, condenou essa doutrina - o Jansenismo - e reprovou a sua moral.

A loucura da Cruz, como a entende a Igreja, não é, pois, a mutilação do homem; não é a renúncia de seus sentimentos, nem do que eleva o seu espírito, dilata o seu coração e alegra a sua vida.

A doutrina da Igreja, é que a Graça não destrói a natureza: purifica-a, aperfeiçoa-a.

Santo Agostinho dizia que a Encarnação não é senão um vasto sistema higiênico e curativo para a natureza humana; e, se bem compreenderdes este pensamento do egrégio doutor da Igreja, vós tereis a justa idéia do que seja a loucura da Cruz.

Nas práticas da vida cristã, nas humilhações do homem que quer purificar-se, há uma espécie de loucura; mas loucura somente para os instintos depravados da natureza corrompida. Como em todo remédio há uma parte por assim dizer ignóbil, vil, desprezível, repugnante à natureza; há também isso no aparelho curativo da Igreja.

O homem é também doente do espírito e do coração; e os remédios de que precisa esta sua enfermidade são, como os do corpo, duros, amargos, repugnantes à vaidade e ao orgulho.

É uma loucura humilhar-se, abater-se pedir perdão das ofensas, amar os inimigos?! Pois é a loucura da Cruz!

É uma loucura ser casto, renunciar aos gozos animais, rivalizar com os anjos?! Pois é a loucura da Cruz!

É uma loucura repudiar a avareza a ambição da glória, o furor do bem-estar?! Pois é a loucura da Cruz!

Reparai, porém: esta loucura  é um verdadeiro remédio, porque nos despoja do velho homem, restaura as partes nobres da nossa natureza, que só se purifica e regenera pela crucificação, isto é, pelo aniquilamento de suas partes más.

E não foi essa loucura que regenerou o mundo, quando, num momento solene da história, para libertá-lo da gangrena romana, foi preciso lavá-lo no sangue das virgens, dos confessores, dos mártires?!

E, hoje, que falta ao nosso século? É justamente a loucura da Cruz!

Porque o homem moderno é tão vaidoso, tão cheio de ambições, tão sensual, tão rebelde? Porque não ama a Cruz de Jesus Cristo e zomba do cristão que procura reproduzi-la em si? Porque na política a impostura, a mentira, a perfídia? Na ciência - o orgulho, na literatura - a luxúria, nas artes - a prostituição do belo, o repúdio de todas as formas nobres da imaginação? Porque o estadista, o sábio, o filósofo, o poeta e o artista não conseguem fazer feliz a humanidade moderna?

Percorrei o mundo inteiro, batei a todas as portas; perguntai aos homens, nos palácios ou nas choupanas, se eles são felizes; e um gemido doloroso saído de todos os corações vos responderá: não, não somos felizes.

Mas porque o homem moderno, no meio de tantos esplendores da civilização material, é verdadeiramente desgraçado?

Porque ele não ama a Cruz de Jesus Cristo.

Vós, homem moderno, podeis pretender todas as glórias: a de terdes surpreendido, com um pedaço e vidro, o infinitamente pequeno nas profundezas da terra, o infinitamente grande nas profundezas do céu; a de terdes dado aos vossos olhos o prodigioso óptico poder de verem no solo o arbusto crescer, a verem no espaço o astro girar; a de terdes reunido nas vossas exposições universais as riquezas espalhadas pelo globo; a de terdes consorciado nos vossos museus as faunas e as floras do mundo inteiro; a de terdes pelejado com os seus ventos e tempestades, medido mesmo a profundeza dos seus oceanos.

Há uma glória, porém, que vós não podeis reclamar: a de terdes medido a inanidade dos vossos prazeres, domado os ímpetos do vosso orgulho, medido a profundeza incomensurável da vaidade universal, que não deixa ver na Cruz de Jesus Cristo a salvação do mundo, e na loucura da Cruz - a sabedoria verdadeira!

(A Paixão pelo Pe. Júlio Maria de Lombaerde, cruzada da Boa Imprensa - Rio, 1937)

PS: Grifos meus.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

ESPECIAL: A PAIXÃO pelo Pe. Júlio Maria C.Ss.R.

Nota do blogue: Iniciarei a transcrição deste belíssimo livro do Pe. Júlio Maria, C.Ss.R., já em preparação para o tempo da quaresma que se aproxima.


A PAIXÃO


Padre Júlio Maria C.Ss.R.
Cruzada da Boa imprensa
1937

Nihil Obstrat
Rio, 11-X-1936
P.J. Bapt. de Siqueira

Imprimatur
Rio, 13-10-1936
Mons. R. Costa Rego, V.S

ÍNDICE

Oração pedindo fervorosa devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Oração pedindo fervorosa devoção ao Sagrado Coração de Jesus


Pelas singulares prerrogativas de Vosso dulcíssimo Coração, alcançai-me ó poderosa Mãe de Deus e minha Mãe, uma verdadeira e sólida devoção ao Sagrado Coração de Jesus, Vosso muito amado Filho, a fim de que, conservando-me unida com Ele por meus pensamentos e minhas afeições cumpra todos os meus deveres. Fazei, ó Maria, que, com um coração cheio de coragem sirva a Jesus hoje e todos os dias de minha vida.

Coração de Jesus, abrasado de amor por nós.
Inflamai o nosso coração de amor por Vós.

(Oração retirado do livreto: Venha a nós o Vosso Reino, manual de piedade para as alunas das irmãs missionárias do Sagrado Coração de Jesus, 1959, com imprimatur)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mães sobrenaturais

Mães sobrenaturais


Felicitava-se um inglês (Chesterton) de que a educação fosse toda ela confiada a mulheres até ao momento em que se torna ínútil educar, - porque "uma criança não é mandada à escola para se instruir, senão quando já é tarde para aprender qualquer coisa".

Por outras palavras: a formação depende da educação da primeira infância, e em segundo lugar a educação da primeira infância pertence às mulheres. Esta é a verdade. E grave. Porque surge imediatamente o problema: as mães encarregadas de educar estarão todas elas à altura dessa missão?

Algumas, sim, e distinguem-se. Para a primeira infância. E depois também, quando os filhos já são adultos.

Quando os filhos eram pequeninos, com que atenção não velavam elas não só pelo seu corpo, mas sobretudo pela alma, deviando tudo o que mais tarde pudesse vir a ser para eles ocasião de tentação. Com que amor de Deus, logo desde o primeiro desabrochar da razão, lhes não juntaram elas as mãozinhas para rezarem, com o coração erguido para o céu. E por ocasião da primeira comunhão particular, com que ternura lhes não ensinaram as maravilhas da Eucaristia, os não animaram à generosidade, lhes não falaram de Cristo crucificado.

Sem jamais se buscarem a si mesmas, com que alegre e sobrenatural austeridade ensinaram a criança a sacrificar-se, a pensar nos  outros, com que habilidade divina lhes não mostraram as necessidades imensas do mundo e os não fizeram pensar nos pagãozinhos privados da felicidade de terem mamãe cristã, papai cristão, irmãs e irmãs batizados.

"As crianças são sérias; e conservar-se infantil a sua alma significa precisamente continuar a encarar a vida com seriedade". Este pensamento de Joergensen - conhecido, ou desconhecido - tem servido de regra a mães que sempre ajudaram os filhos a conservar, depois de crescidos, a profundeza juvenil da sua seriedade em face da vida.

E quando eles são grandes, como essas mães os ajudaram a desenvolver essa seriedade, a evitar que se extraviem, que se dissipem na atmosfera do mundo e da frivolidade...vivendo elas próprias na familiaridade divina, aprenderam o grande mistério de "Deus pertinho", de Deus que mora no fundo da alma em graça e que só deseja chamar-nos à Sua intimidade.

Honra a essas mães, verdadeiras educadoras!

(Excertos de Cristo no lar, meditações para pessoas casadas, por Raúl Plus, S.J, tradução de Pe. José Oliveira Dias, S.J. ; 2ª Edição, Livraria Apostolado da Imprensa, 1947, com imprimatur)

PS: Mantenho os grifos do autor.

Quero ser uma santa!

Quero ser uma santa!


Ó Maria, que me adotastes por Vossa filha, ajudai-me, pois quero ser uma santa. Terei porém de sofrer com paciência que me humilhem, que me esqueçam, também alegrar-me se me ver desprezada.

- Não importa, estou a isso resolvida, pois quero ser uma santa! Não poderei, porém, jamais desculpar-me, nem impacientar-me, nem deixar-me arrastar pelo mau humor.

-  Não importa, estou a isso resolvida, pois quero ser uma santa! Terei porém de me violentar sempre, sujeitar a minha vontade à vontade dos meus superiores, nunca replicar, não me mostrar enfadada, não interromper o trabalho começado, por aborrecido e fastidioso que seja.

- Não importa, estou a isso resolvida, pois quero ser uma santa! Terei, porém, de ser muito caritativa com todos os que me rodeiam, amá-los, suportá-los, prestar-lhes todos os dias algum serviço, julgando-me feliz quando esses serviços me sejam penosos.

 - Não importa, estou a isso resolvida, pois quero ser uma santa! Terei, porém, de resistir constantemente às inclinações da minha natureza covarde indolente e soberba, terei de privar-me das diversões do mundo, renunciando à vaidade que me leva a agradar, à sensualidade que me arrasta a procurar os prazeres, à antipatia que me faz tratar com frieza aqueles que me não agradam.

- Não importa, estou a isso resolvida, pois quero ser uma santa! Terei, porém, de passar longas horas de tristeza, de tédio, de desgosto... ver-me-ei só, abatida...

- Não importa, estou a isso resolvida, pois quero ser uma santa! E Vós, ó meu Deus, estareis comigo e junto de mim, para me auxiliardes e fortificardes!

Ó Maria, minha Mãe querida, ajudai-me, pois quero ser uma santa!

* O excmo. snr. Arcebispo de S.Thiago da Galiza concedeu 80 dias de indulgência todos os dias, às Filhas de Maria, que devotamente recitarem esta oração.

(Maria falando ao coração da donzela, meditações para todos os dias do mês, traduzidas do italiano pelo Abade A. Bayle --Professor de Eloquência Sagrada na Faculdade de Teologia de Aix--; Quinta edição, Livraria Catholica Portuense, ano de 1917)

Oração para bem escolher a vocação

Oração para bem escolher a vocação



Ó meu Deus, que sois o Deus da Sabedoria e do Conselho, que pusestes no meu coração o desejo sincero de não agradar senão a Vós só e de me conformar inteiramente com a Vossa santa vontade na escolha da minha vocação; concedei-me pela intercessão da Santíssima Virgem, minha Mãe, e de todos os meus santos patronos, sobretudo de São José, a graça de conhecer que estado devo eu abraçar e a graça de o alcançar, a fim de que nele trabalhe para a Vossa glória, consiga a minha salvação e mereça a recompensa celeste, que prometestes àqueles que cumprirem Vossa divina vontade.

Assim seja.

(300 dias de ind. uma vez ao dia)


(Oração retirada do livreto: Venha a nós o Vosso Reino, manual de piedade para as alunas das irmãs missionárias do Sagrado Coração de Jesus, 1959, com imprimatur)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Bela gravura

Bela gravura

(clique nela para ampliá-la)

Adoro-Vos, meu Jesus, erguido na Cruz sobre o Calvário e agora elevado nas mãos do sacerdote, levantai também, Senhor, o meu coração à contemplação dos Vossos tormentos, assim como do extremoso amor que nos mostrais nesse mistério da Eucaristia, para que possa dizer com toda a devoção e fervor:

Graças e louvores se dêem em todo o momento
Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento

Oração para os dias de carnaval

Oração para os dias de carnaval



Meu Jesus, que sobre a Cruz perdoastes aqueles que nela Vos chegaram, e desculpastes diante de Vosso Pai o seu delito. Vós que da Cruz lançastes um olhar de piedade ao ladrão que expirava sobre o patíbulo e o convertestes e salvastes; Vós que entre as agonias da morte declarastes ter ainda sede de padecimentos para tornar mais copiosa a universal Redenção, tende piedade de tantos infelizes que seduzidos pelo espírito da mentira nestes dias de falsos prazeres e de escandalosa dissipação correm risco de se perder.

Ah! pelos méritos de Vosso preciosíssimo Sangue e da Vossa morte não os abandoneis como merecem nem permitais fique sem remédio o miserável estado em que se vão precipitar. Reservai para eles um dia de misericórdia e de salvação. Vós que a Pedro estendestes prontamente a mão para sustentá-lo, quando submergia, socorrei também a estes infelizes que estão para cair no abismo infernal; acordai-os, sacudi-os, iluminai-os, convertei-os e salvai-os.

Tende, pois, sempre firme sobre nós a Vossa dextra, para que nunca sejamos seduzidos por tantos escândalos que nos rodeiam; pelo contrário, a semelhança de José de Tobias que vivendo num ambiente superticioso, nunca se afastaram da verdade e da justiça, mereçamos nós o Vosso amor, ao passo que outros provocam o Vosso desdém e nos apliquemos nos exercícios de piedade enquanto que ela é esquecida pelos ingratos filhos do século que terão de chorar para sempre a sua atual estultícia.

Padre nosso, Ave Maria e Glória.
(Oração retirada do livreto: Venha a nós o Vosso Reino, manual de piedade para as alunas das irmãs missionárias do Sagrado Coração de Jesus, 1959, com imprimatur)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Modo de se consagrar a si mesmo e a N.N ao glorioso Patriarca São José

Modo de se consagrar a si mesmo
e a N.N ao glorioso Patriarca São José

Oração de consagração



Ó glorioso Patriarca São José, que por Deus fostes estabelecido cabeça e guarda da mais santa de todas as famílias, dignai-vos lá no céu ser também cabeça e guarda desta (N.N), que aqui está prostrada diante de vós, e pede a recebais sob o manto do vosso Patrocínio. Nós desde este momento vos escolheremos para pai, protetor, conselheiro, guia e padroeiro, e pomos debaixo do vosso especial amparo a nossa alma, corpo e bens, quanto temos e somos, a vida e a morte.

Olhai-me como vossos filhos e coisa vossa. Defendei-nos de todos os perigos, de todos os ardis, de todos os enganos dos nossos inimigos, visíveis e invisíveis. Assisti-nos em todos os tempos em todas as necessidades, consolai-nos em todas as amarguras da vida; mas em especial na agonia da morte. Dizei em nosso favor uma palavra Àquele amável Redentor, que em menino trouxestes em vossos braços, Àquela Virgem gloriosa, de que fostes amantíssimo esposo.

Oh! alcançai dEles as bênçãos que conheceis serem proveitosas ao nosso verdadeiro bem, à eterna salvação. Numa palavra, ponde esta família no número das que amais, e ela procurará por meio de uma vida verdadeiramente cristã não se tornar indigna do vosso especial Patrocínio.
Assim seja.

Pater, Ave, Gloria.

(Maria falando ao coração da donzela, meditações para todos os dias do mês, traduzidas do italiano pelo Abade A. Bayle --Professor de Eloquência Sagrada na Faculdade de Teologia de Aix--; Quinta edição, Livraria Catholica Portuense, ano de 1917)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ESPECIAL: Maria falando ao coração das donzelas (Meditações)

Nota do blogue: Esse livro é dividido entre meditações e algumas orações, transcreverei (para transformar em arquivo PDF) as meditações e as orações no decorrer do ano vou colocando-as no blogue.
Nota 2 incluída no dia 15/06/2011: Livro disponível em PDF, ver AQUI.

MARIA
FALANDO
AO CORAÇÃO DAS DONZELAS

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Meditações para todos os dias do mês
Traduzidas do italiano
pelo Abade A. Bayle
Professor de Eloquência Sagrada na Faculdade de Teologia de Aix

Quinta edição
revista por Guilherme Edmond Gomes da Silva,
e seguida de muitas orações aprovadas, recomendadas
e indulgenciadas pelo Emmo. Sr. D. Américo,
Cardeal Bispo do Porto

Livraria Catholica Portuense
1917

ÍNDICE

Meditações para todos os dias