quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Educação sobrenatural: XVI - Prudência

EDUCAÇÃO SOBRENATURAL

XVI PARTE - A VOCAÇÃO PARA A VIDA CRISTÃ NO MUNDO


II - PRUDÊNCIA

Qual a matéria sobre que pode e deve exercer-se a prudência dos pais?
Os pais devem tomar todas as precauções para assegurar a felicidade temporal e eterna de seus filhos. Estes, sem dúvida, são os primeiros interessados; mas são levianos, inexperientes, muito confiados, muito apaixonados; procedem por impressão e por sentimento, e não pela reflexão e juízo; têm muito "coração" e "razão escassa".

Pertence aos pais cristãos, sérios e educadores, suprir aquilo que lhes falta, examinando e resolvendo com prudência a questão: - da idade; da religião; da maneira de proceder; da saúde;- da seriedade de espírito; da coragem; da bondade; da fortuna; das relações.

Que se deve pensar com relação à idade em que convém casar seus filhos?
É preciso considerar:

- A idade da donzela;
- a idade do mancebo;
- a idade relativa do mancebo e da donzela.

Em que idade se devem casar as donzelas?
"A prudência, a razão, o próprio afeto que lhes deveis, o futuro dos novos filhos, impõe-vos o dever de não casar as vossas filhas muito cedo" (Mgr. Pichenot)

É preciso:

- Deixá-las fortalecer e crescer: as esposas muito jovens dão à luz filhos muito débeis e inspiram-lhes menos respeito.

- Obrigá-las a uma aprendizagem da vida da família e da vida doméstica: quando tiverem a idade legal, podem, sem perigo para elas, e sem dano para os outros, suportar os encargos e desempenhar os deveres do seu novo estado?

- Dar-lhes o tempo de se fortalecerem na prática dos deveres da vida cristã: muitas passam do colégio para o casamento; e, depois de talvez terem comungado todos os dias, chegam a nem ao menos cumprir o preceito pascal.

Em que idade de devem casar os filhos?
Não caseis os vossos filhos muito tarde, diz Mgr. Pichenot. "As delongas, sem um motivo sério, só podem ser prejudiciais aos jovens que se desejam casar e à própria união que desejam contrair".
(P. Hoppenot, catecismo do casamento, p. 145-146)

Como podem as delongas ser prejudiciais aos jovens que se desejam casar?
Porque os jovens estão na idade das paixões violentas, que fazem que a sua virtude corra o mais sério perigo. O remédio está no próprio casamento, um dos fins do qual, segundo o catecismo do Concílio de Trento, é apaziguar as revoltas da carne...

Que aconselha a prudência com relação à idade relativa dos jovens?
Duas coisas:

- Que haja uma certa diferença;
- que esta diferença não seja muito considerável.

Em que sentido é desejável que haja uma certa diferença entre os esposos?
"No sentido de que o marido deve ser ordinariamente um pouco mais idoso que a sua mulher: é o voto da natureza, a indicação da Providência".
(Mgr. Pichenot)

E porquê?

"Porque a mulher é mais precoce; e o homem, ordinariamente menos refletido, levado como é pelo fogo do seu temperamento e do seu caráter, tem necessidade de alguns anos mais para adquirir o peso, a maturação, a posição, a experiência necessárias ao chefe de família que quer compreender os seus deveres, como é preciso, e cumpri-los. Demais, o nível restabelece-se em pouco tempo; o homem conserva-se melhor que a mulher; a maternidade faz envelhecer, e ambos hão-de acabar por, bem depressa, ter, de fato, a mesma idade".
(Mgr. Pichenot)

Quais são os inconvenientes duma grande diferença de idade entre os esposos?
- A simpatia é necessariamente menor.

- A parte mais jovem abandona facilmente o lar.

- O esposo abandonado é presa dos golpes envenenados do mais torturante ciúme.

- Os filhos sofrerão, talvez toda a sua vida, por efeito desta desigualdade de idade entre o pai e a mãe.

- Correrão o perigo de ficar órfãos muito cedo.

Quais são as obrigações da prudência com relação à religião dos jovens esposos?
- É preciso proceder de maneira que se tornem impossível os casamentos entre pessoas de religiões diferentes;

- é preciso colocar a religião no primeiro plano das condições que se exigem para determinar a sua escolha.

Por que se devem rejeitar os casamentos entre católicos e hereges?
Porque a Igreja lhes causa horror a ponto de considerar a heresia um impedimento do matrimônio.

Donde provém este horror?
Do perigo da perversão a que estão expostos o cônjuge católico e seus filhos.

"É necessário a abstenção de semelhantes matrimônios, sobretudo pela razão de fornecerem ensejo de o cônjuge católico se encontrar numa sociedade e de participar de práticas religiosas proibidas; são também uma causa de perigo para a religião do esposo que for católico; são um obstáculo à boa educação dos filhos, e levam muitas vezes os espíritos a considerar todas as religiões como iguais, sem fazerem distinção alguma entre a verdade e o erro".
(Leão XIII Encíclica, Arcanum)

Que se deve pensar das dispensas que a Igreja concede algumas vezes?
Deve-se pensar que a Igreja só concede estas dispensas com dificuldade, e por graves razões, com o fim de evitar um mal maior. Mas a Igreja priva os casamantos assim contraídos das bênçãos solenes, que se compraz em lançar sobre os seus verdadeiros filhos, mostrando por isso a tristeza ea inquietação que lhe causam estas uniões, tão prejudicias à fé.

Por que deve a religião ocupar o primeiro lugar das exigências formuladas pelos pais, quando se trata de escolher um companheiro ou uma companheira para seus filhos?
1º- "Porque, para os cristãos, o casamento não é somente uma união de vidas, mas a fusão das almas, fusão que não pode ser real e completa, se não houver a comunicação da religião"; (P. Hoppenot)

- porque, sendo o matrimônio um sacramento dos vivos, seria um sacrifício recebê-lo sem ser em estado de graça, e, por conseqüência, sinceramente religioso;

- porque um jovem ou uma donzela que amam como se devem amar, isto é, que tanto cumprem preceitos religiosos como os deveres mundanos, nunca poderão consentir na ligação de sua vida à duma criatura sem religião, em estado perpétuo de condenação às penas eternas; por conseguinte, só desposarão um cristão praticante.

Que incoveniente haveria em desprezar esta recomendação?

"Há de temer que o homem sem religião diminua, pouco a pouco, a religião da sua companheira e acabe até por extingui-la. Far-lhe-á primeiramente abandonar as práticas de devoção e de conveniência; depois, os deveres essenciais; a seguir os princípios, os sacramentos, o Decálogo, a Igreja, Jesus Cristo, o próprio Deus. Em poucos anos, a piedade da esposa torna-se frouxa, a sua fé abala-se, desconcerta-se, as suas recordações da educação cristã esfriam e desaparecem, a sua consciência parece um farrapo. Um belo dia, a mulher encontra-se ao nível do homem. Ei-los semelhantes um o outro, sem práticas, sem crenças, sem esperanças, como dois astros extintos, como dois anjos fulminados".
(Mgr. Gibier, A desorganização da família, p. 136)

- Se é a mulher que não tem religião:

- O marido bom cristão não pode ser feliz;
- demais, está constantemente em perigo de perder a fé;
- o marido que, de fato, não é cristão, nunca o chegará a ser;
- "a mulher lançará uma nódoa no nome do seu marido, e tornará o seu interior suspeito e infeliz" (Mgr. Pichenot);
- a mulher nunca poderá educar cristãmente os seus filhos.

Liga-se, geralmente, bastante importância a esta questão de religião?
Não cremos.

E fazemos votos porque todos os noivos possam repetir com sinceridade as palavras do duque Luís da Turíngia, o feliz esposo de Santa Isabel da Hungria:

"Eu quero possuir a minha Isabel. Pela sua virtude e piedade, quero-lhe mais que a todas as terras e a todas as riquezas do mundo". (Montalembert, Santa Isabel da Hungria, cap. V)

Que é preciso exigir em relação à maneira de proceder?

"O homem que, na sua primeira juventude, cometeu algumas fraquezas, poderá, pelo menos se estiver seriamente convertido, desempenhar fielmente os seus deveres de pai e de esposo. Mas, se se mostrou francamente libertino, evitai consentir em tal casamento; há imensas probanilidades de que um jovem, por tanto tempo e fundamentalmente imerso no vício, recaia, mais dia menos dia, nos seus desregramentos".
(Charruaum Às mães, p. 233-234)

"Com respeito a uma donzela, deve
-se ser mais severo. Na grande maioria dos casos, não podeis confiar nela se, na sua juventude, as suas relações mesmo superficiais não foram de todo irrepreensíveis. Para cometer estas faltas, ela devia ter violado o pudor natural do seu sexo. Estas fraquezas indicam uma tendência bem acentuada para o mal. Há a recear novas recaídas".
(Charruaum Às mães, p. 233-234)

Deve fazer-se grande caso da saúde?
"Sem dúvida nenhuma, pois que a saúde é um fator necessário na criação duma família (P.Hoppenot). Há jovens que nunca deveriam casar e que fazem necessariamente do seu diadema nupcial uma mortalha; jovens que encontram o seu ataúde no berço do primeiro recém-nascido. Há jovens que só transmitem a vida entregando-se à morte, e cujos filhos expiarão a sua imprudência, para não dizer outra coisa".
(Mgr. Pichenot)

Há muito tempo que o Espirito Santo disse:

"Um corpo cheio de vigor vale mais que os maiores rendimentos. Não; não há riqueza possível ao tesouro duma boa saúde". (Ecli. XXX, 15,16)

É preciso também fazer caso da ciência?
É o P.Hoppenot que nos vai responder:

"Da ciência religiosa necessária à salvação, sim; e também das ciências profanas necessárias ao marido no seu mister ou profissão. Na escolha que fizer, nada melhor que o homem ligar-se a uma mulher cultivada, capaz de o seguir e de o compreender, se, deixando, por um instante, a vulgaridade da vida, sentir prazer em aportar às regiões do espírito e do gosto; mas que o homem se defenda da mulher sábia.

Que esqueça que a sua tarefa é estar em sua casa, e que é duma sopa bem feita que se vive e não duma bela linguagem".

Quanto a diplomas, dois são indispensáveis à jovem esposa na sua casa:

Diploma elementar: diploma de amabilidade.
Diploma superior: diploma de dedicação.

Não haverá nada melhor que a ciência e o espírito?
- O senso firme e reto: "Uma mulher sensata edifica a sua casa, e uma mulher insensata destrói-a por suas próprias mãos", dizem os Provérbios (XIV, 1);

- a serenidade de espírito.

"Os pais que pensam  em casar uma filha, desejam ordinariamente encontrar um genro sério. Mas, se se trata de casar um filho, a seriedade do espírito não passa, muitas vezes, a seus olhos, duma qualidade meramente acessória para a donzela que deve ser a sua companheira. 'A minha nora é uma tontinha que só pensa em divertir-se, dizia um dia uma dama, que tinha por toda a parte a reputação de pessoa sensata; mas, acrescentava ela, é encantadora, e, além disso, a seriedade de meu filho vale pela dos dois; de resto é preciso que a mulher o desemburre um pouco e que não se demore nesse trabalho".
(Charruau, Às mães, p. 28)

Que tristeza.

Que se deve exigir em relação à coragem?
- Os pais que querem seriamente a felicidade de suas filhas, nunca devem aceitar para genro um homem, sem posição, sem carreira sem uma ocupação certa...

- Não devem escolher de maneira nenhuma uma nora que não tenha o amor do trabalho e do trabalho manual.

"Se eu quisesse mal a um jovem, e se a vingança fosse permitida, desejar-lhe-ia para esposa uma ledora de romances". (Mgr. Pichenot)

É permitido procurar a beleza?
"Com certeza, responde o Catecismo do Concílio de Trento. Jacob, na Escritura, não é censurado por ter preferido Raquel a Lia, por causa da sua beleza. Mas com uma condição: Que esta beleza não seja uma máscara enganadora, mas sim o reflexo duma alma virtuosa". (P.Hoppenot)

As pessoas sérias desconfiam sempre um pouco:

"Não quereris, dizia-nos um dia um jovem de muito senso, desposar uma jovem cuja beleza desse que falar. Julgar-me-ão, talvez, original; mas tenho esta convicção muito arraigada". Não tinha razão? (Charruau, Às mães, p. 241. O Talmude conta que duas vezes por ano as jovens filhas de Jerusalém, vestidas de branco, iam dançar nas vinhas, dizendo: Vede rapazes, e tratai de escolher bem; não vos prendais com a beleza, mas consultai antes a família, porque a graça é enganadora e a beleza é vã. A mulher que teme a Deus é que será louvada).

Que se deve pensar da fortuna?
- É permitido desejar um dote suficiente, que permita sustentar a posição de cada um e educar, sem grandes dificuldade, um grande número de filhos;

- mas fazer da fortuna a questão principal, à qual se subordinem todas as outras é, ao mesmo tempo, insensato e anti cristão.

"A menina X é amável e boa; havia de dar uma excelente mulher; agradar-me muito, mas não tem nada! É impossível pensar nisso.


Não gosto desta menina; se não fosse tão rica, não pensaria nela um instante... Mas que dote! que esplêndido dote! É caso para pensar: Nunca poderia esperar um tão belo partido. Seria, na verdade um grande estúpido se não aproveitasse esta ocasião!... Decididamente aceito!"
(Charruau, Às mães, p. 240-241)

É este, na verdade, um raciocínio sem razão, mas está na moda. Não é uma companheira que se procura, é um dote; e crê-se, de boa mente, ser-se muito sensato quanto tão loucamente se procede (Charruau, Às mães, p. 240-241).

- Que os pais se não esqueçam nunca do velho provérbio: "Mais vale fama que riqueza". E que o jovem se persuada de "que a fortuna da mulher não substituirá nunca no lar a afeição verdadeira e desinteressada". (P. Hoppenot)

Que se deve pensar das relações que precedem o casamento?
- São necessárias.

Como no casamento não há noviciado, diz São Frncisco de Sales, quero que haja, ao menos, um apostolado; porque não admito que se case primeiramente e que se ame depois, se for possível.

É preciso então que os jovens saibam previamente se são feitos um para o outro, se se podem compreender e amar. Daí, a necessidade das entrevistas.

- São perigosas.

Quanto mais puros são os jovens, mais expostos então a ser arrastados pela violência das suas afeições nascentes. E, depois, o casamento poderá não se fazer: é preciso então que o rompimento não se torne impossível, se for julgado necessário.

Por conseqüência, as entrevistas serão pouco frequentes, cheias de reserva, sempre na presença e sob a vigilância duma mãe. Enfim, quando o casamento estiver decidido, que se faça o mais depressa possível.

(Catecismo da educação, pelo Abade René de Bethléem, continua com o post: III - O desinteresse)

PS: Grifos meus.