quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O salmo das novas mães

O SALMO DAS NOVAS MÃES


Certa mãe ainda nova – toda ela dada ao seu mister de mãe, e ao mesmo tempo boa artista, teve a idéia de comparar a sua missão com a de “suas irmãs do claustro”. Entre a barrela, a panela e o seu último berço, tentou ela compor “O salmo das novas mães”. Publicou-o um número das revistas do “Mariage chrétien” (Novembro de 1938).

Muito amor, muito frescor. Qualquer mãe se verá aí retratada.
Eis algumas passagens:

“Ó meu Deus, como nossas irmãs do claustro,
Nós deixamos tudo por Vós,
Não encarceramos dentro da alvura duma touca e sob um véu, a juventude do nosso rosto,
E, se acaso cortamos os cabelos, não foi em espírito de penitência...
Dignai-Vos, contudo, Senhor, lançar um olhar de complacência
Sobre os humildes e pequeninos sacrifícios
Que Vos oferecemos no longo decorrer do dia,
Desde que a nossa carne lamuriante deu a vida a todos estes cristãos pequeninos
Que para Vós educamos.

A nossa liberdade, ó meu Deus, está nas mãos desses tiranos que a toda a hora gritam por nós:
A casa torna-se o nosso claustro.
A nossa vida tem sua regra, imutável,
E cada dia o seu ofício, sempre o mesmo:
A hora das toilettes e dos passeios,
A hora dos biberões e as horas de aula.
Presas assim às mil pequeninas exigências da vida,
Desprendidas, à força, a todo o instante da nossa vontade própria,
Vivemos na obediência.
Nem sequer a nossa noite nos pertence.

Também nós temos o nosso ofício noturno,
Quando temos de nos levantar depressa, depressa, para um filho doente,
Ou quando, entre meia-noite e duas horas,
Em pleno sono, de que tanta necessidade temos,
Um chantrezinho intempestivo
Canta Matinas...

Vivemos quase retiradas do mundo:
Há tanto que fazer em casa.
Nada de saídas, aliás, sem que junto das crianças fique postada uma guarda fiel.
E medimos parcimoniosamente o tempo das visitas.
Não temos, ó meu Deus, irmãs conversas.
E quando em casa a crise do serviço nos afoga,
Temos de varrer, de lavar a louça, de raspar as cenouras para a panela, fazer um purê bem polidinho e desembaraçar-nos sem demora,
Entre o quarto das crianças e a cozinha.

Fazemos grandes barrelas, esfregamos e lavamos
Aventais e camisas, meias e camisolas,
E a roupa das crianças.
Por este caminho de sacrifício, ah! Vinde em nosso auxílio, Jesus!

(Cristo no lar, meditações para pessoas casadas, por Raúl Plus, S.J, tradução de Pe. José Oliveira Dias, S.J. ; 2ª Edição, Livraria Apostolado da Imprensa, 1947, com imprimatur)