quinta-feira, 27 de junho de 2013

O CRISTÃO-REI

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI. Com esse post encerro a transcrição desse livro. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

O CRISTÃO-REI


1- Realeza perdida e restaurada em Cristo: o Batismo

Jesus Cristo quis que todos os homens fossem revestidos da Sua dignidade real e, por isso, instituiu o sacramento do Batismo para fazermos parte da Sua Igreja, que é o Seu reino na terra, para depois gozarmos no Seu reino do Céu. "Se alguém, diz nosso Senhor, não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo. III, 5)

2- Dignidade real do cristão

É preciso considerar, na sua realidade profunda, esta dignidade sobre-humana a que Cristo interiormente nos elevou.

A unção na cabeça fazia-se antes para consagrar os reis e os pontífices; depois do batismo é ungido na cabeça o neófito, porque, em certo modo, fica também sendo rei e sacerdote: rei, para neste mundo dominar e reinar sobre as paixões a fim de um dia reinar com Cristo nos Céus; sacerdote, para oferecer a Deus, sem cessar, o sacrifício de louvores e boas obras.

Pelo batismo fica impresso na alma o caráter sacramental; somos incorporados no reino de Cristo, somos membros do Seu Corpo místico, e, por isso, revestidos das prerrogativas de Cristo, entre as quais, da Sua realeza; porque os membros participam das propriedades e dignidade da cabeça. Com razão dizia São Pedro aos fiéis do seu tempo: "Vós sois um sacerdócio real, uma gente santa, um povo de conquista, para que publiques as perfeições daquele que das trevas vos chamou à Sua luz admirável." (I Ped. II, 9).

Participamos, pois, todos, da realeza sacerdotal de Cristo, e, por conseqüência, dos Seus sacramentos, do Seu sacrifício, de que são excluídos os infiéis. E quanto mais se ampliar em nós a real prerrogativa do Seu sacerdócio, maior será a nossa realeza; a realeza é um aspecto do sacerdócio.

São Leão considerando a excelência desta prerrogativa exclamava: "Ó Cristão, reconhece a tua dignidade!" A nossa realeza é a de Cristo.

3- Autoridade real do cristão

Como em Cristo, a nossa realeza é uma autoridade. Mas convém notar que, como em Cristo, ainda que de modo diferente, a divina realeza de que somos investidos não é uma realeza de dominação pacífica mas uma realeza de conquista: Quer se trate de si mesmo, quer se trate das criaturas, quer se trate dos homens, o cristão deve conquistar o seu reino.

4- Exercício da autoridade real do cristão

1º- Sobre si mesmo.- Devido ao pecado original a nossa inteligência está obscurecida, a nossa vontade é fraca, as nossas potências sensíveis estão desorganizadas, o nosso corpo com os seus sentidos revolta-se contra o espírito e o espírito com as suas faculdades revolta-se contra Deus. O cristão deve submeter os dois elementos da sua natureza, o corpo e a alma ao jugo suave de Cristo.

É preciso que o homem carnal e terrestre ceda à autoridade do homem espiritual e celeste. Isto é um trabalho lento e bastante doloroso. São Paulo queixa-se amargamente nestes termos: "Eu não faço o bem que quero e falo o mal que não quero. Que desgraçado eu sou! Quem me livrará deste corpo de morte". (Rom. VII, 19,23,24). "Eu castigo o meu corpo e reduzo-o à escravidão". (I Cor. IX. 27).

É esta uma grande lição para o cristão-rei. Para não cair na escravidão, ele mesmo deve ter sob o seu cetro os seus próprios súditos, isto é, o corpo com todos os seus sentidos deve estar sujeito à razão.

2º- Autoridade sobre as criaturas. - A natureza revoltada desde o paraíso terreal tende não somente a subtrair-se ao império do homem, mas também a dominá-lo e escravizá-lo. A natureza impõe-lhe as suas exigências: "comerás o pão com o suor do teu rosto". (Genes. III. 19). Por causa dos bens do mundo não devemos desprezar a nossa alma e os bens do reino do Céu. Devemo-nos servir do mundo, mas não servirmos o mundo porque isto seria escravidão; devemos, como dizia São Francisco de Sales, fazer como a abelha que voa por cima do mel e não de encrava nele, conserva sempre a liberdade das suas asas. Só assim podemos proclamar como Cristo que o nosso reino não é deste mundo, só assim podemos ter o reino dos Céus. "Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos Céus". (Mat. V, 3).

3º- Sobre os homens. - O cristão, como Cristo, deve exercer com toda a autoridade a sua realeza não somente sobre si mesmo, sobre as criaturas, mas também sobre o homem. 

"Tende, diz o Apóstolo São Paulo, os sentimentos de que Jesus Cristo era animado. Ele disse que viera servir e não para ser servido; e, na verdade; aniquilou-Se, tomou a forma de escravo; foi obediente até a morte da Cruz; por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que excede todo e qualquer outro. Ao nome de Jesus dobra-se o joelho de todas as criaturas, no Céu, na terra e nos infernos."

Regnavit a ligno Deus. Deus começou a reinar pela Cruz.

O cristão, pois, como Cristo, vai até ao dom de si mesmo, até à imolação e ao sacrifício, desempenha verdadeiramente uma função real. Realiza está máxima: servire regnare est, servir é reinar.

O nosso cetro deve assemelhar-se ao Seu cetro, a nossa coroa à Sua coroa, o nosso trono ao Seu trono. Assim, cada um de nós pode afirmar como Cristo: Eu sou rei.

Animados dos mesmos sentimentos de Jesus devemos ter as mesmas preocupações que Ele teve: "Eu vim, diz Ele, para que os homens tenham a vida abundante. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; e importa que eu as traga: elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor." (Jo. X, 10, 16).

Reflexões e resoluções

Agora, com os olhos da minha alma fixos em Jesus Cristo-Rei, faço reflexões sobre a Sua Realeza divina e tomo as resoluções de pedir com instância e trabalhar com zelo pela dilatação do Seu Reino.

Venha a nós o Vosso reino!

Reino de Deus dentro de nós. - O reino da Vossa graça seja em nossos espíritos pela simplicidade da nossa fé, e em nossos corações pelo Vosso santo e puro amor que procuraremos manter sempre vivo e ardente com a freqüência da divina Eucaristia.

Reino de Deus em volta de nós. - Seja dilatado o Vosso reino sobre a terra de maneira que todos tenham zelo em trabalhar pela conversão dos pecadores e dos infiéis a fim de que o número dos justos e cristãos seja cada vez maior.

Fazei, Senhor, que de um pólo ao outro do mundo ressoe uma só voz: Viva Cristo-Rei!

Reino de Deus acima de nós. - Dai-nos, Senhor, depois de tudo isto, o reino dos Céus, já começado para os anjos e santos e aperfeiçoado pela reunião de todos os eleitos.

Jesus Cristo, Rei da Glória, venha a nós o Vosso reino!
Maria Santíssima, minha boa Mãe, ajudai-me a ser fiel a estas resoluções.