segunda-feira, 26 de julho de 2010

Queda da taxa de natalidade

Nota: Segue duas matérias de 2008, bem interessantes e por que não atuais?! (Apesar da data de publicação).

Brasil só perde para a China na queda da taxa de natalidade



Projeções indicam que, no futuro, população brasileira deve ter mais idosos do que crianças, a exemplo do que ocorre em países europeus.

Faça um teste: pegue seu álbum de família e compare o número de filhos que cada pessoa das últimas quatro ou cinco gerações teve. Provavelmente você irá concluir que seus avós e bisavós tiveram muito mais irmãos do que as gerações de hoje têm. Em um período de aproximadamente 50 anos, a taxa de fecundidade (número de filhos por mulher ao fim do período reprodutivo) no Brasil caiu de 6,3 (1960) para 1,8 (2006).

O único país em desenvolvimento comparável em tamanho a ter um declínio tão rápido e significativo como o Brasil foi a China, onde o governo adota uma política extrema de controle de natalidade. Na América Latina, a situação brasileira poderia ser comparada à do México, onde as taxas caíram de 7,3 em 1960 para 2,4 em 2000. Mas também lá existe uma clara política de controle populacional.

A redução da taxa, em 2005, para 2,0 filhos por casal deixava o Brasil em uma situação de “estabilidade” populacional. Se cada casal continuasse a ter dois filhos, a população simplesmente seria reposta, ou seja, para cada duas pessoas que morressem, nasceriam outras duas. Porém, a tendência é que esses índices continuem caindo, o que já foi observado em 2006 (1,8). A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que a taxa de fecundidade em 2050 seja de 1,61. No Paraná, onde em 2006 esses valores já eram de 1,81, a previsão é de que cheguem a 1,39 ao fim desse período.

Se a previsão se confirmar, o Brasil deverá enfrentar problemas como os que já ocorrem em países europeus. O envelhecimento da população exige investimentos em políticas públicas nas áreas de saúde, previdência, acessibilidade, entre outras. A diferença é que, enquanto nos países da Europa esse declínio teve início ainda com o processo de industrialização e ocorreu de forma gradual, durante cerca de cem anos, no Brasil, a diminuição da fecundidade se deu em pouco mais de 40 anos.

Causas

As explicações para a redução não são unânimes nem definitivas. Uma série de fatores sociais, culturais, ambientais, biológicos e políticos têm sua parcela de contribuição. De acordo com a professora do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais, Paula Miranda Ribeiro, embora o Brasil não tenha tido oficialmente uma política governamental que pregasse a diminuição do número de filhos por casal, outras políticas tiveram esse efeito como secundário. Um exemplo é a Previdência. Com a garantia de uma fonte de renda na velhice, as pessoas deixaram de se preocupar em ter vários filhos para garantir o sustento no futuro. “Claro que isso não é um comportamento consciente, mas tem um impacto marginal nas taxas”, observa.

A oferta de crédito, como fator facilitador de compras parceladas, também influi, uma vez que estimula as pessoas a comprometerem a renda em outros projetos como compra de casa própria, carro, estudo e viagens ao invés de terem filhos. “Em alguns casos se adia muito a hora de engravidar e pode ser tarde demais”, aponta.

Da mesma forma que na Europa, o processo de urbanização e a entrada da mulher no mercado de trabalho contribuíram para tornar as famílias menores. “A saída do meio rural fez com que as famílias não precisassem mais ter tantos filhos para mão de obra. A industrialização levou as mulheres para as fábricas e elas não tiveram mais tempo de cuidar de tantas crianças”, explica Marlene Tamanini, especialista do Núcleo de Pesquisa e Estudo do Gênero da Universidade Federal do Paraná.

O surgimento da pílula anticoncepcional também teve um papel fundamental na formatação do novo modelo de família. Ela revolucionou o planejamento familiar nos anos 60, fazendo com que as mulheres passassem a ter o controle na decisão de ter filhos.Antes disso, elas tinham uma gestação atrás da outra, a amamentação era o único método contraceptivo. Quando paravam de amamentar, elas engravidavam de novo. Com a pílula, tudo mudou”, diz o professor da disciplina de Reprodução Humana da Universidade Federal do Paraná, Rosires Pereira de Andrade.

No Brasil, a grande quantidade de cesarianas também contribuiu para a ocorrência de um processo de esterilização nas décadas de 70, 80 e 90. “Os contraceptivos, além de evitar gravidez, mudaram o caráter apenas reprodutivo do sexo”, completa Marlene. Em 1986 um levantamento nacional mostrou que 60% das brasileiras fazia uso de algum método contraceptivo. Dez anos depois, esse número já era de 80%. Fatores psicológicos e biológicos como estresse e má alimentação também tiveram sua parcela de influência na queda da fecundidade. Hoje estima-se que 11% da população mundial precise de auxílio médico para ter filhos.

Fator econômico

Atualmente, a decisão de engravidar é algo que passa muito mais pela esfera econômica. “Os casais querem ter filhos, mas isso tem de estar dentro das suas possibilidade financeiras. É uma decisão muito mais racional do que antigamente”, afirma Marlene. Para ela, embora haja ainda uma cobrança da sociedade para casamento e descendência, a existência de casais sem filhos já é melhor aceita.


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Tamanho da família também sofre influência das telenovelas


A queda na taxa da fecundidade brasileira pode estar relacionada ainda com a audiência das telenovelas. A hipótese é apontada em um estudo de três pesquisadores do Centro de Pesquisas para Política Econômica do Reino Unido. Segundo a pesquisa, a presença de famílias pequenas nas novelas influencia as mulheres a desejar menos filhos.

Para o estudo, foram analisadas 115 novelas transmitidas pela Rede Globo entre 1965 e 1999. O levantamento mostrou que 72% das personagens femininas de até 50 anos não tinham filhos. Em 21% dos casos, a personagem tinha apenas um filho.

Apesar da possível influência, o estudo reconhece que não se trata de algo intencional. “Tentamos verificar se novelas de determinados autores tinham relações estatísticas mais significativas, mas não encontramos. Se houvesse essa agenda teríamos identificado”, explicou Alberto Chong, um dos autores do estudo, em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo.
Para o pesquisador, o poder das novelas poderia ser usado com fins educativos (NB ?). “Principalmente em áreas onde as pessoas não têm acesso ou não procuram se informar por outros meios, como jornais”, diz.

Aceitação

Para a professora do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais, Paula Miranda Ribeiro, que já atuou em uma pesquisa semelhante no Brasil, as novelas influenciam o comportamento de duas formas.A curto prazo, elas ditam moda e a longo, ajudam a traçar valores e a mudar a mentalidade das pessoas”, afirma. Segundo ela, a repetição de temas faz com que determinadas idéias que antes eram rejeitadas passem a ser aceitas.

O pesquisador e gerente de estudos e análises demográficas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Juarez de Castro Oliveira, considera que as novelas podem influenciar na taxa de fecundidade na medida em que transmitem um padrão de consumo. “As pessoas querem ser iguais aos personagens, mas, para alcançar aquele nível de vida, precisam de dinheiro, e, tendo filhos, acabam com uma série de despesas”, resume. (CV)


PS: Grifos meus.