terça-feira, 8 de junho de 2010

A importância da formação do coração

Formação do coração


A importância da formação do coração

Qual a importância da formação do coração?
É imensa.

Pode dizer-se que o coração bem formado é a condição de toda a grandeza, enquanto que o coração corrompido é a fonte de todas as baixezas.

O coração, com efeito, simboliza "essa potência misteriosa que nos eleva até às mais altas sumidades, até Deus, e nos precipita nos abismos mais profundos; capaz de todas as grandezas e de todas as ruínas, das mais sublimes dedicações, e das traições mais abjetas; impetuosa e terrível como o oceano."
(L. Lenfant, O coração, p. 7-8).

Como é que o coração bem formado é a condição de toda a grandeza?
É que a grandeza da alma não se afirma sem profundas impressões bem dirigidas e sabiamente aproveitadas.

Por que é o coração corrompido é a fonte de todas as baixezas?
Porque o coração corrompido, sem nada perder da sua energia, liga-se ao mal. Quantos mais recursos naturais possui, mais depressa desce a ladeira do vício e mais baixo se revolve na lama e na desonra.

"Sob a ação de influências nefastas, em lugar de se erguer florescente, a sensibilidade contrai-se, envia a sua seiva mais rica aos ladrões parasitas, emquanto definham os ramos superiores."
(P. Gaultier, A verdadeira Educação, p.30)

"Como existe o infinito entre Deus e a criatura, podeis avançar sempre, conhecer sempre novos progressos na felicidade de amar e de ser amados."
(Abade Perreyve)

Quais são as qualidades que deve ter um coração bem formado?
Deve ser:

- sensível;
- forte;
- regrado;
- desinteressado;
- entusiasta.

Capítulo I - O coração deve ser sensível

"De todos os sacrifícios que se fazem pela educação, nenhum é comparável ao de educar crianças que não têm sensibilidade."
(Da educação das filhas, cap. V)

Que se deve entender da eclosão desta sensibilidade?
É a família.

É ela "o único terreno em que a nova planta pode nutrir-se duma seiva rica e pura".

"Pela vigilância, pela afeição de que é o objeto, pelo ar de ternura, enfim, que reina no seio da família, a sensibilidade da criança expande-se naturalmente ao abrigo das indiferenças, dos contágios e das invejas."
(P. Gaultier, ob. cit., p. 32e 37.)

Que escolho se deve evitar para que a sensibilidade seja sempre uma qualidade?
É preciso evitar:

- a mimalhice;
- a pieguice;
- a sensualidade.

Em que consiste a mimalhice?
Consiste em criar a criança agarrada às saias da mãe; cobri-la de carícias; satisfazer todos os seus caprichos; em querer, custe o que custar, poupá-la ao menor sofrimento.

Locke dizia "que se devem expor muito cedo as crianças à dor" (J. Locke, Da educação das crianças, p. 14; trad. COSTE, citado por P.Gaultier, ob. cit., p. 48.)

Não vamos tão longe.

Mas "leitos moles, tisanas, cache-nez, pastilhas, mostras de ansiedade, recomendações que revelem inquietação ou angústia, tudo isso se deve terminantemente evitar. Uma educação materialmente um pouco mais dura preserva da efeminação, o que é um defeito, mesmo nas mulheres."
(P.Gaultier, ob. cit., p. 42 e 44).

O que é pieguice?
A pieguice é uma exageração e um desvio da sensibilidade...

Como se pode evitar este desvio ou esta exageração?
- Habituando as crianças a dominar e a dirigir a sua sensibilidade. Nunca se lhes deve permitir, por exemplo, sob o pretexto de que se deve ser bom para com os animais, aplicar injustamente, em proveito dos irracionais, as reservas de bondade concedidas por Deus.

- Não de deve tolerar que as crianças chorem a perda dum pássaro, dum cãozinho, dum gatinho, ainda que fossem muito bonitos.

- É preciso ensiná-las a reprimir as lágrimas ao verem uma boneca estragada, um brinquedo partido.

Capítulo II - O Coração deve ser forte

Poderemos contentar-nos com desenvolver a sensibilidade da criança?
É preciso também temperá-la: o coração sensível deve ser um coração forte.

"Um camponês discorria sobre a seca: Nas terras soltas, dizia ele, os trigos estão perdidos... Os das terras fortes ainda se podem salvar."
(Mme. Thérêse Alphonse Karr)

Como se pode dar à criança um coração forte?
Exercitando-a, desde a mais tenra idade, a conservar a liberdade, a fidelidade e a serenidade do coração. (O que dizemos da liberdade e da serenidade do coração é inspirado, por L.Lenfant, O coração, p. 145 a 199.)

Em que consiste a liberdade de coração?
Reside completamente no domínio de si mesmo, e na subordinação dos afetos aos princípios da razão e da fé.

Quantos se têm perdido por terem faltado à prática destes princípios, ou foram condenados a essas grandes e íntimas torturas incessantemente renovadas, que, muitas vezes, esgotam as melhores vontades.

Mas é sempre fácil?
Não o julgamos assim:

Há paixões, que nada pode satisfazer.
Há o demônio: Os demônios, negros milhafres, caem sobre os corações puros e despedaçam-nos.

E as voluptuosidades mundanas.

É, ao menos, possível?
Sim.

As paixões são forças, sob o ponto de vista filosófico; podem aplicar-se ao bem. O demônio não nos tenta além do que podemos suportar vitoriosamente, com graça de Deus. As voluptuosidades do mundo são incapazes de preencher o vácuo do coração...

Em que consiste a fidelidade do coração?
Consiste em manter com constância as afeições legítimas e ordenadas que uma vez se aceitaram.

Em que consiste a serenidade do coração?
Consiste em conservar essa alegria calma e forte que se chama a paz, apesar da solidão e da vida afadigada do lar; apesar das angústias da miséria, das ruínas e das privações; apesar das doenças e enfermidades; apesar das faltas e tentações; apesar da perda de seres queridos; apesar da aproximação da morte.

Quais são os sustentáculos desta sereidade?
São de ordem sobrenatural: chamam-se a fé e o amor de Deus.

- Na solidão da vida e no vácuo aberto de repente num lar, ouvir-se-ão a voz de Deus. Diz-se geralmente que, quando numa alma se forma um vácuo, Deus se precipita nesse vácuo.

2 º - Nas angústias da miséria, nas ruínas e nas privações, a alma volta-se para as riquezas eternas, que aumentam a cada provação suportada com coragem.

- Nas desgraças e enfermidades, dir-se-á como Job:

"Sei que o meu vingador vive, e que por fim, se erguerá sobre o pó. Então, com este esqueleto revestido com a pele e com a minha carne, verei a Deus. Eu mesmo O verei: os meus olhos O verão e não a outrem; as minhas entranhas se consomem dentro de mim."
(Job, XIX, 25-28)

- Nos momentos áridos da vida e nas tentações, devemos lembrar-nos de que Deus, semelhante a uma mãe que um instante se esconde para gozar a alegria de seu filho quando lhe aparece, se oculta aos nossos olhares durante a provação dum momento, para se nos mostrar face a face na eternidade.

- Na desaparição de seres queridos, pensar-se-á na grande reunião do Céu, como M. Dupont, junto do leito de sua filha:

- Consola-te, minha filha, dizia ele; aqui no mundo, duas muralhas nos separam: o teu corpo e o meu; a tua vai cair... a minha desaparecerá em breve..., e então encontrar-nos-emos de novo, para nunca mais nos separarmos.

- Nas perspectivas da morte, volvam-se os olhos para a luz:

- O Céu! o Céu! exclamava uma alma santa, depois de haver sofrido horrivelmente; e foi este o seu último grito.

- Vi a Santíssima Virgem, repetia outra alma; era como esta que está aqui - e apontava para Nossa Senhora de Lourdes: - e ajuntava:

- A minha boa mãe sorria-me e mostrava-me o céu!

(Excertos do livro: Catecismo da educação, do Abade René Betléem, continua com o post: O coração deve ser regrado)

PS: Grifos meus.