sábado, 1 de maio de 2010

Discurso, país de família francesa (Papa Pio XII)

Discurso, país de família francesa 
Papa Pio XII


Repetidas vezes, e a propósito de diversos problemas, insistimos sobre a santidade da família, sobre seus direitos, finalidades, como célula fundamental da sociedade humana. Por isto sua vida, sua saúde, seu vigor, sua atividade, asseguram, na ordem, a vida, a saúde, o vigor, a atividade de toda a sociedade. Da existência, da dignidade, da função social que lhe advém de Deus, a família deve responder ao próprio Deus.

Seus direitos, seus privilégios são inalienáveis, intangíveis; ela tem o dever, antes de tudo, diante de Deus, em segundo lugar diante da sociedade, de defender, reivindicar, promover, efetivamente estes direitos e privilégios, não somente em própria vantagem, mas para a glória de Deus, para o bem da coletividade.

Quantas vezes cantaram-se louvores à mãe, considerada como o coração, o sol da família! Mas se a mãe é o coração, o pai é a cabeça; a saúde e eficiência da família dependem por isto em primeiro lugar da capacidade das virtudes, da atividade do pai.

Para o cristão está vigente uma regra que lhe consente fixar com certeza a extensão dos direitos e dos deveres da família na comunidade do estado. Ela é assim concebida: a família não é para a sociedade; mas a sociedade é que é para a família. A família é a célula fundamental, o elemento que constitui a comunidade estatal, já que, para usar a expressão mesma de nosso predecessor Pio XI, de feliz memória, "a cidade é tal qual a fazem as famílias e os homens de que é formada, como o corpo é formado pelos membros".

Em virtude, por assim dizer, do instinto de conservação, o Estado deveria portanto cumprir o que, essencialmente e segundo o desígnio de Deus Criador e Salvador, é seu primeiro dever: garantir, de modo absoluto os valores que asseguram à família ordem, dignidade humana, saúde, felicidade. Estes valores que são os elementos mesmo do bem comum, não poderão jamais ser sacrificados àquilo que aparentemente poderia ser o bem comum.

Indicamos, a título de exemplo, alguns que ameaçam muito hoje: a indissolubilidade do matrimônio; a proteção da vida antes do nascimento; alojamento suficiente para as famílias compostas não de um ou dois filhos ou também sem filhos, mas para a família normal, mais numerosa; a possibilidade de trabalhar, porque a desocupação do pai é a mais amarga miséria para a família; o direito dos progenitores sobre os filhos, no que diz respeito ao Estado; a plena liberdade para os progenitores de educar os filhos na verdadeira fé, e portanto, o direito dos progenitores católicos à escola católica; condições de vida pública tal que a família e sobretudo a juventude tenham a certeza moral de não provir delas a corrupção.

Sobre este e outros pontos ainda, que tocam mais proximamente a vida familiar, não existe entre as famílias diferença alguma; sobre outras questões econômicas e políticas, pelo contrário, podem encontrar-se em condições bastante diversas, disparatadas, e por vezes em concorrência ou até em contraste. Exatamente aqui é preciso esforçar-se - e os católicos terão de dar o exemplo - para promover o equilíbrio, ainda que sacrificando interesses particulares visando a paz interna e uma sã economia. Mas quanto aos direitos essenciais da família, os verdadeiros fiéis da Igreja empenhar-se-ão até o fim para sustentá-los.

Poderá acontecer que, aqui ou ali, sobre algum ponto sejam constrangidos a ceder diante da superioridade de forças políticas, mas neste caso não se capitula, suporta-se. Além do mais, em casos semelhantes, é preciso que a doutrina seja salva, que todos os meios eficazes sejam colocados em prática para chegar gradualmente ao fim a que se não renunciou.

Entre estes meios eficazes, se não também imediatos, um dos mais potentes é a união dos pais de família, firmes nas próprias convicções e unidos na mesma vontade.

Outro meio que não ficará jamais estéril ainda antes de obter o resultado desejado e que, em falta ou na espera do sucesso que se continua a perseguir, traz sempre os frutos, é o cuidado, nesta coalizão de pais de família, de empenhar-se em iluminar a opinião pública, de persuadi-la a pouco e pouco, de favorecer o triunfo da verdade e da justiça. Nenhum esforço para agir sobre ela deve ser descurado ou negligenciado.

Há um campo no qual esta educação, esta sã orientação da opinião pública se impõe com trágica urgência. Em tal setor ela foi pervertida por uma propaganda que não se hesitaria chamar funesta, porque embora visando atingir os católicos, os que a exercitam não percebem que inconscientemente estão sendo enganados pelo espírito do mal.

Queremos referir-nos  a escritos, livros e artigos concernentes à iniciação sexual, que hoje obtêm muitas vezes enormes sucessos de venda e inundam todo o mundo, invadindo a infância, submergindo a nova geração, perturbando os noivos e os jovens esposos.

Com toda a gravidade, atenção e dignidade que o argumento comporta, a Igreja tratou o problema de uma instrução em tal matéria, qual aconselham ou exigem seja o desenvolvimento físico e psíquico normal do adolescente, sejam os casos específicos nas diversas condições individuais.

A Igreja com justo direito pode declarar que, no mais profundo respeito para a santidade do matrimônio, em teoria e na prática, deixou livre os esposos naquilo que o impulso de uma natureza sã e honesta, semcausar ofensa ao Criador, consente.

Fica-se aterrorizado diante do intolerável descaramento de tal literatura: ao passo que, diante do segredo da intimidade conjugal, até o paganismo parecia parar com respeito, hoje se assiste à violação do mistério e ele é oferecido como espetáculo sensual e vivido ao grande público e até à juventude.

É de se perguntar se permanece ainda suficientemente nítido o limite entre esta iniciação - assim chamada católica - e a imprensa ou ilustração erótica e obscena, que deliberadamente se propõe a corromper ou aproveitar vergonhosamente, por vis interesses, os mais baixos instintos da natureza decaída.

Não basta. Tal propaganda ameaça o povo católico com dúplice flagelo, para não usar uma expressão mais forte. Antes de tudo, exagera além da medida a importância e o significado, na vida, do elemento sexual. Embora admitindo que tais autores, sob o aspecto puramente teórico, se mantêm nos limites da moral católica, entretanto nem sempre é verdade que sua maneira de expor a vida sexual seja tal que não forme, no intelecto e no juízo prático do leitor, o significado e o valor de uma coisa, como sendo fim a si mesma.

Faz perder de vista o verdadeiro fim primordial do matrimônio, que é a procriação e educação da prole, e o grave dever dos esposos diante dessa finalidade, que os escritos de que falamos deixam muito na obscuridade.

Em segundo lugar esta, assim chamada, literatura não parece ter em consideração alguma a experiência geral de ontem, de hoje e de sempre, uma vez que, fundamentada sobre a própria natureza, que atesta que na educação moral nem a iniciação, nem a instrução, de per si, trazem vantagem; que ela é gravemente danosa e prejudicial quando não está solidamente sustentada por uma constante disciplina, por um vigoroso domínio de si, pelo recurso sobretudo às forças sobrenaturais da oração e dos sacramentos.

Todos os educadores católicos dignos deste nome e da própria missão bem conhecem o concurso preponderante das energias sobrenaturais na santificação do homem, as quais ajudam o adulto, solteiro ou casado.

Sobre tudo isso, em semelhantes escritos, diz-se apenas uma palavra, quando não se deixa tudo no silêncio. Os próprios princípios que em sua encíclica "Divini illius Magistri" o nosso predecessor Pio XI tão sabiamente iluminou, a propósito da educação sexual e dos problemas com ela conexos, são - triste sinal dos tempos - colocados à parte com um simples gesto de mão, ou com um sorriso. Pio XI, diz-se, escrevia estas coisas vinte anos trás, para a sua época. Dede então o mundo girou muito!

Pais de família, uni-vos - bem entendido, sob a orientação de vossos bispos - ; chamai em vosso auxílio todas as mulheres e mães católicas, para combaterem unidos, sem incertezas e respeito humano, para fazer dique e destruir estes movimentos, qualquer que sejam o nome ou a autoridade de que se cobrem ou da qual tenham sido revestidos.

(Discurso, país de família francesa - Papa Pio XII - retirado so livro: Pio XII e os problemas do Mundo Moderno)

PS: Grifos meus.