segunda-feira, 15 de março de 2010

A harmonia entre o pai e a mãe - Educação dos filhos

A harmonia entre o pai e a mãe
Educação dos filhos


“A formação de um homem supõe,
no começo, um bom lar”
 (René Bazin)

Quais são, com justiça, os fundamentos da harmonia?

- É o casamento.

O casamento tem, com efeito, por objetivo a vida comum. O casamento supõe, portanto, entre os esposos, aquele minimum de harmonia sem o qual a vida comum seria uma tortura, e em cada um dos esposos uma virtude proporcionada ás exigências desta harmonia.
Os novos desposados sabem perfeitamente que no dia em que se prometeram fidelidade aos pés do altar, depositaram, em comum, na corbelha do casamento, não somente as boas qualidades, mas também os defeitos. E, se têm a felicidade de ser cristãos, sentirão em si a graça sacramental, que lhes dá força para todos os sacrifícios impostos pela união e boa harmonia.

- É a necessidade do bom exemplo.

Quando desaparece a harmonia, as crianças, testemunhas das discussões entre os pais, dos ressentimentos, que são a natural conseqüência, ah! nunca esquecem essa lembrança sinistra... e quem poderá fazer uma idéia de todas as misérias de deformação que daí podem resultar?

- É a própria educação.

Efetivamente, a educação tem por fim fazer penetrar a verdade no espírito das crianças e habituar a vontade delas à pratica do bem.

Esta harmonia é sempre um fato?

Ah! não; e é quase sempre por culpa do pai, que comete uma destas duas faltas:

- Ou compromete desastradamente a sua autoridade;
- Ou corrompe os seus filhos.

Quando é que o pai compromete desastradamente a sua autoridade?

O pai compromete a sua autoridade:
- Quando intervém sem saber, arriscando-se assim a colocar-se em contradição com as ordens da mãe;
- Quando reprova as censuras feitas pela mãe.

Quando é que o pai corrompe os filhos?

- Quando amima, por demais, os filhos, e deixa à mãe o papel de desmancha-prazeres, o que é muito atraente, mas soberanamente funesto.

- Quando se faz de camarada alegre dos filhos, até ao momento em que, já cansado das manifestações da sua bonomia e do enervamento por elas causado, diz a sua mulher: “minha amiga, retiro-me: toma conta das crianças”.

Qual o resultado desta maneira de proceder?

É a ruína da autoridade.
A mãe quer e não pode.

Quer acalmar o desassossego produzido pelo pai, quer restabelecer a ordem perturbada por ele e não pode; usa da sua autoridade, sem obter resultados eficazes.

Durante a luta que a sua imprudência causou, ele está longe do lar; poderia remediar a situação ou teria podido não a tornar insuportável; não o quis, nem o quer; deixa tudo aos cuidados da mamãe. E talvez se persuada de que cumpre todos os seus deveres de pai.

Quais são as impressões da criança causadas pelo desacordo entre o pai e a mãe?

- A princípio, a criança fica admirada; abre muito os olhos; procura compreender; seu pai, a quem ama e respeita, diz: sim; sua mãe, a quem não tem menos amor e que respeita ternamente, diz; não; e, não obstante, o sim e o não são contraditórios: a criança não compreende nada.

- A criança hesita em obedecer; pergunta a si mesma se entendeu bem; e não sabe nunca para que lado se há de voltar.

- A criança aprende a dissimular. Faça o que fizer, tem num de seus pais um aprovador e no outro um censor; toda a sua diplomacia consiste então em iludir a vigilância que lhe traga uma censura ou um castigo.

- A criança não aprende assim a distinguir com clareza o bem do mal; as idéias que forma não têm um caráter absoluto; como o sim e o não, dependem das ocasiões, das pessoas e das circunstâncias. Ora, nada há mais prejudicial à boa formação da criança do que esta confusão de idéias e esta obliteração do senso moral.

- A criança explora, em proveito dos seus caprichos e dos seus defeitos, a oposição manifesta entre seu pai e sua mãe.

Não haverá um ponto sob o qual se deva considerar mais especialmente ruinosa a oposição entre o pai e a mãe?

Sim: este ponto é a religião. Que triste situação a de uma família, sincera e cristã, cujo marido é indiferente! Geralmente não há uma franca hostilidade. Mas os filhos sabem que o pai não se confessa; notam a sua maneira de proceder em desacordo com os princípios que afirma, em oposição com as práticas de sua mãe...

Nada compreendem a princípio.
Depois admiram-se.
Finalmente, escandalizam-se.

E, um dia, todos estes sentimentos explodem num grito de revolta, apoiado no mau exemplo do pai, formado por ele, a pouco e pouco, no fundo da alma, onde se cria o espírito de independência e germina o personalismo.

- O meu pai não vai à Missa!
- Farei como p papai; etc.
Mr.Baugad diz isto mesmo, numa linguagem simples e belamente expressiva:

“A mãe tem fé, o pai não tem fé alguma; a mãe suplica e adora, o pai nem suplica, nem adora. As almas, em desarmonia, não se fundem. A criança nascida desta falsa união poderá ser vigorosa de corpo, mas terá uma alma raquítica... E, quando a criança começa a discernir, que tristeza de lar! Aos sete anos compreende alguma coisa; aos dez, pasma; aos quinze, escandaliza-se; e, ao primeiro grito das paixões, aproveita-se dessa desarmonia para livremente se entregar às suas loucuras.”
(O cristianismo e os tempos presentes, t. 1, p. 164).

(Excertos do livro: Catecismo da educação – Abade René Bethléem)