quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Terço e Medalha na vida da donzela

Terço e Medalha na vida da donzela


A Filha de Maria tem muitos meios de provar seu amor a sua Mãe; para não alongar, falaremos apenas de dois: o terço e a medalha.

Não se compreende uma Filha de Maria sem o terço. Este faz parte integrante dos seus exercícios de piedade, e o dia em que ela não o recita deverá parecer-lhe triste como um dia sem sol! Ela o trará sempre consigo, rezá-lo-á na igreja, na rua, nos bondes, em toda parte; à noite, o seu último pensamento será para Maria, pois ela adormecerá de terço na mão.

É a sua arma própria; nunca se separará dela, e dela se servirá, sobretudo quando a luta for mais viva. No dia em que uma Filha de Maria abandona o seu terço, isso é mau sinal; outro amor que o da Virgem terá vindo tomar posse do seu coração. Não se pode servir a dois senhores!...

Lembrai-vos de que o terço é também o termômetro da vida espiritual; não se pode rezá-lo bem sem ficar fervoroso, e no dia em que ele é rezado seja como for, como uma penitência, é que o reinado de Maria foi posto em xeque no coração. Enfim, quando o vosso terço dormir numa caixinha ou numa gaveta do vosso quarto, então gaveta em vós coisas de que tereis de corar e que não quereríeis confessar a vossa mãe.
O sacerdote treme pela alma que lhe diz: “Eu não rezo mais o meu terço”. É a primeira oração que se abandona...

E não receeis a monotonia dessa oração.

As palavras que os lábios pronunciam protegem e sustentam as meditações sucessivas sobre os mistérios; o pensamento orante deserta-as ao mesmo tempo que os segue, ultrapassa-as ao mesmo tempo que delas se impregna. Essa oração, que parece verbal, é a mais espiritual de todas; essa oração, que parece escrava, é a mais emancipada de todas; essa oração, que parece rudimentar, é a mais contemplativa e pode tornar-se a mais pessoal de todas."

Para corroborar estas asserções de G. Goyau, eis agora os belos pensamentos do Cônego Coube:

A palavra terço, os cépticos reclamam: ‘Para que essa repetição monótona de Ave-Maria? A alma tem asas, deixem-na voar. Por que a aprisionarem e a condenarem a girar nesse moinho de orações?’ Esta objeção é falha de psicologia. É um fato que, quando o homem acha uma fórmula justa, precisa, adequada para exprimir um dos sentimentos profundos de sua alma, o seu amor ou o seu ódio, o seu entusiasmo ou a sua indignação, descansa nela, compraz-se nela, torna a ela à saciedade e verdadeiramente com razão.

E a razão disto, a razão filosófica, é esta: é que, pronunciando essa fórmula, sejam quais forem o acento que ele ponha nela, a percepção que dela tenha, a emoção que sinta com ela, ele não a penetra e não a aprofunda toda a seu gosto, não a esgota. Destarte, justo é que torne a ela para nela achar novos aspectos da verdade, para fazer saltar dela novas centelhas. Foi por isso que Lacordaire disse muito bem, com tanta elegância quanta profundeza, que o amor tem só uma palavra, e dizendo-a sempre, nunca se repete.

Perguntai aos soldados em marcha por que é que eles cantam dez vezes, cem vezes as mesmas palavras na mesma toada. Não devem eles recear aumentar a monotonia da marcha pelo do canto? Não, senhores, porque sob a simplicidade, e quiçá sob a banalidade, das palavras, pode haver nesse estribilho algo de grande e de nobre, um grito de amor à pátria, uma saudação aos antepassados, um apelo à vitória, um desafio à morte. E dez e cem vezes a alma do soldado se envolta nesse desafio, nesse apelo, nessa saudação, nesse grito de amor.

Porque é que o mendigo se conserva horas a fio sob a chuva e sob a neve, repetindo as mesmas palavras: Uma esmola pelo amor de Deus? É porque a experiência lhe mostrou nessas palavras a fórmula mais capaz de apiedar o bom Samaritano que passa.

Ora, depois do Padre-Nosso, que, aliás, associais à Ave-Maria no terço, não há oração que, melhor do que essa humilde Ave-Maria, traduza os sentimentos mais sagrados de nossos corações. A primeira parte é a aclamação triunfal, é o entusiasmo da multidão que lança à Rainha as suas bênçãos e flores. A segunda parte é um grito plangente, é a grande angústia da humanidade que se sente condenada a morrer: Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte...”

Sem dúvida, em recitando o vosso Rosário, tereis distrações, mas desfiai-o mesmo assim, repeti, murmurai a Maria o vosso canto de amor. Suponde uma criança que vai ao campo; é domingo, ela quer colher flores para a sua mãe, e à noite traz a esta um grande feixe de margaridas, de papoulas, de madressilvas e de mil outras plantas que terá colhido no decurso do seu passeio.

Acaso a mãe, recebendo essas flores, olhará se elas são belas ou feias, frescas ou murchas? Umas terão a corola murcha, outras mão terão talo, mas o todo formará um ramalhete através do qual a mãe verá alegre, o coração do filho que quis obsequiá-la. Assim também Maria.

Colhei para Ela, ao longo do dia todo, as rosas das vossas Ave-Marias, e, vinda a noite, oferecei-as a vossa Mãe do Céu.Ela não quererá “depenar” o vosso ramalhete, a pretexto de terdes tido algumas distrações, de haverdes rezado com demasiada rapidez, talvez, que sei? Não, Maria também não verá em todas essas flores, em todas essas Ave-Marias, senão o vosso coração de filha que a ama e que procurou obsequiá-la.

Medalha

Algumas pessoas usam trazer sobre si a fotografia daqueles que lhes são caros. Ora, a vossa medalha é como a fotografia da vossa Mãe do Céu; ela vos foi dada pelo sacerdote que vos recebeu como Filha de Maria; que lembrança inesquecível essa medalhinha!

É um preservativo contra o pecado, um socorro nas tentações, e também um meio de reanimar o vosso fervor. Podereis, talvez, trazer sobre vós muitas jóias, mas nenhuma vos deve ser tão preciosa, tão cara como a vossa medalha! É como que um raio de luz caído do Céu, um sorriso de Maria gravado em metal, uma relíquia preciosa.

Beijai-a com amor, sobretudo de manhã ao levantar-vos, e à noite ao deitar-vos; sejam para Maria o vosso primeiro e o vosso último sorriso. E repeti-lhe com confiança, com candura infantil: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!”. Menina, Ela guiará vossos passos e vos conservará na inocência; donzela, Ela vos protegerá por entre os escolhos da vida; e, até à vossa morte, ficará sobre vós como a mais deliciosa lembrança da melhor das mães.

Em novembro de 1914, numa ambulância bem próxima do “front”, chegava um rapaz de Paris com a perna varada por um estilhaço de obus; a padiola estava cheia de sangue, e ele sorria. Quando o transportaram para a mesa de operação, julgaram-se no dever de lhe tirar as roupas que o sangue lhe colara à pele. Ele sofria terrivelmente, mas vigiava o vaivém em torno de si. Ao cabo de um momento, disse ao padioleiro:

Atenção, eu tenho uma medalha por baixo da camisa, não toquem nela! - Deixo-a com você, meu rapaz, mas fique tranqüilo, não se enerve! - Não estou enervado, disse ele, estou apenas com a perna quebrada, vão-me pôr outra de pau branco, isto não tem importância; mas a minha medalha, se me fizerem dormir daqui a pouco, é preciso ter cuidado com ela. Ela me foi dada, no dia da partida, por minha mulher.

Fazia só oito dias que estávamos casados. Ela me disse: “Veja lá, meu querido; você guardará essa medalha como lembrança minha; e a beijará todas as noites pensando em mim, e fará a sua oraçãozinha”. Pois bem! Como você sabe, eu não valho grande coisa, vivi “à la diable”, mas em lembrança de minha querida mulher, uma Bretã que tem uma fé de anjo, não passo um só dia sem beijar minha medalha, e se não o fizesse ficaria cheio de pena; e teria a impressão de ter cometido um pecado...”

Menina, tende também essa lembrança comovida, esse culto da vossa medalha; não tereis, como esse soldadinho, circunstâncias tão trágicas a atravessar, mas haverá momentos na vida em que sentireis a necessidade de beijar a vossa medalha, para haurir nela a força e a coragem de ficardes fiel a Deus e ao dever.

(Excertos do livro: A formação da donzela – Pe. Baeteman)

PS: Grifos meus
Ver também: Medalha Milagrosa (Dom Antônio de Castro Mayer)
                    Observações sobre o Santo Rosário