domingo, 28 de fevereiro de 2010

A cultura dos sentidos

A cultura dos sentidos


"Sem aprender, o homem não sabe caminhar, nem falar, nem comer, nem coisa alguma, senão chorar"

Basta que a criança tenha bons órgãos para chegar ao conhecimento perfeito dos objetos exteriores?
Não; é preciso ainda que os sentidos saibam utilizar os seus instrumentos. A criança deve, portanto, aprender a servir-se dos olhos, dos ouvidos e da língua.

Como aprenderá a criança a servir-se dos olhos?
Se a criança gosta de ver, guiar-se-á a sua curiosidade, para que se não converta em indiscrição; mas evitar-se-á cuidadosamente sufocar essa vivacidade natural.

Procurar-se-á fazê-la conhecer as casas das quais vive (As viagens em volta do jardim, ou as viagens em volta do quarto, podem ser feita e tornadas a fazer com grande proveito): os móveis, as imagens, os animais, as plantas, as flores; dir-se-lhe-ão os nomes; conhecerá os seus defeitos e qualidades. Assim se lhe enriquece a memória; assim se lhe forma o gosto.

Se a criança não procura ver, se nada pergunta, desperta-se-lhe a curiosidade, o interesse por tudo que a rodeia, estimule-se-lhe a atenção.

Como aprenderá a criança a servir-se dos ouvidos?
A criança é perdida por histórias; contem-lhas e façam-lhas repetir, mas que sejam bem escolhidas, simples, curtas, verdadeiras, interessantes, cristãs. Por elas desenvolverá a sensibilidade; tomará gosto pelo belo; evitará o que é mau, grosseiro, nocivo ao próximo, irrespeitoso.

"Minha mãe, que foi a minha ama, não me amamentava nunca sem cantar, e posso dizer que aprendi as minhas primeiras lições sem dar por isso. Sem ter consciência, tinha já a noção muito clara e muito precisa das entonações e dos intervalos que elas representam; dos principais elementos que constituem as modulações, e da diferença característica entre o tom maior e o tom menor, antes mesmo de haver falar, pois que um dia, tendo ouvido cantar na rua - por algum mendigo, sem dúvida- uma canção em tom menor, exclamei: mamã, por que é que ele canta em dó que chora?"
(Charles Gounod, Memórias dum artista,cit, por P.Gaultier, ob. cit. p. 103-104)

Como aprenderá a criança a falar?
Deve falar-se-lhe sempre distintamente, dar-se-á às coisas o seu verdadeiro nome; omitam-se as expressões infantis, que não têm nenhum sentido para elas próprias; atenda-se a que pronunciem bem; corrija-se, desde o princípio, toda a pronúncia defeituosa; dê-se-lhe o exemplo duma conversação digna, correta, respeitosa; responda-se ás perguntas da criança com exatidão, prudência, habilidade; suprimam-se os modos bruscos, que tiram a confiança e sufocam a iniciativa.

"Admirais com prazer a graça com que o vosso filhinho deforma as palavras e, para o animar, tomais o hábito de pronunciar mal as palavras, como ele. Estou a ouvir-vos falar com a criancinha:

- Mamã, totolate.
- Sim, meu anjo, aqui tens totolate.

É evidentemente muito engraçado... mas seria preferível que lhe repetisse um sem número de vezes chocolate, e que lhe negasse esta gulodice, até se acostumar a pronunciar a palavra como deve ser." (P.Combes)

(Excertos do livro: Catecismo da educação - Abade René Bethléem)