terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A vontade - Arma da Pureza


A vontade - Arma da Pureza

Neste nosso século de moleza e de comodidades em que os moços, com um tostão, poupam-se a fadiga de cem metros de caminho que deveriam fazer a pé, tomando carros elétricos, ou o ascensor, para evitar a subida de quarenta degraus, não será demasiado insistir sobre a grande importância da vontade.

Multíplices são as causas que enervam a sensibilidade.
Muito poucas as que contribuem para tornar viril o jovem, dando-lhe a verdadeira robustez.

A sólida formação do caráter e a educação geral da vontade, é que se deveria ter em vista, para toda e qualquer formação dos jovens.

Que fazer de todos esses abúlicos, desses anêmicos, cujo sangue parece carecer de glóbulos vermelhos e abundar de leucólitos? Convencei-vos de que o menino mais disciplinado, o que tivesse maiores prêmios ao colégio e fosse mesmo presidente de Congregação e conquistasse, cada ano, o primeiro prêmio de comportamento, estaria terrivelmente exposto a fraquear, se lhe faltasse a vontade.

Não é verdade?
... Retomemos, por alguns instantes, o assunto das leituras, encarado sob este aspecto, de que nos ocupamos: o da vontade. Evita, caro amigo, as leituras lânguidas, como as daquele de quem J. Lemaitre dizia: "Exala-se de sua obra um sortilégo, um malefício, uma lânguidez mortal".

Lê, pelo contrário, a vida de um homem enérgico. Toma parte de seu magnetismo, ou como se diria em física: entra em seu "campo de indução". Os nossos esforços pessoais nem sempre bastam para fortificar o nosso caráter, o exemplo de outrem ser-te-á sempre de auxílio.

... Caros jovens, qual pensais vem a ser o fim que temos em vista, em nosso colégios?
Acha-se muito bem expressado nas duas seguintes afirmações: a do Cardeal Fleury ao terminar a educação do jovem Luiz XV, declarando-lhe:

"Tudo o que eu procurei fazer-vos foi tornar-me ínutil!", e a do Bispo Dupanloup, ao concluir um seu tratado pedagógico, com esta ponderação: "O que faz o mestre é nada, o que ele faz opraticar, é tudo."

É o nosso papel  na vossa formação: esforçamo-nos por adestrar-nos por adestrar-vos a lutardes, por vós mesmos.

Por vós mesmos: porquanto não estaremos sempre ao pé de vós, para vos amparar.
Por vós mesmos: porque, afinal, é cada um que se salva a si mesmo.

Não é o vosso confessor que vos salva.
... Um penitente do santo Cura d'Arc, não perde nunca a potência de se condenar.
Não é o vosso diretor espiritual quem vos salva nem o vosso pregador.

Eles o que fazem é apontar-vos o caminho: são, digamos assim, como postes indicadores do caminho do céu. Mas de que serve o melhor poste indicador, que muito bem aponta o roteiro, se o viajante não tem a coragem de seguir por esse caminho? O poste indica mas não sabe de seu sítio.

Não é a Virgem nem os santos que vos salvam.
Eles incitam-vos ao bem mas a ninguém forçam.
São magníficos guias. Mas se o que tiver o melhor guia, o não seguir, de que servirá tê-lo?

Nem mesmo o próprio Deus somente, pois, "Deus que vos criou sem vós, vos não salvará sem vós". (Santo Agostinho).

Podem recomendar-vos a virtude mas, em suma, a vós toca praticá-la.
Ninguém vos dispensa do esforço e de um "trabalho individual", que não admite substituto algum.

Santo Inácio a quem injustamente acusam de haver substituído a iniciativa pessoal, por métodos e fórmulas, começa os Exercícios Espirituais por notar: ser necessário "se exercere", exercitar-se a si mesmo. É tão radicalmente impossível o querer, em vosso lugar, como o nutrir-se alguém, por vós.

Praticai, vós mesmos, o bem.
A virtude não é coisa extrinseca, mas intrinseca.
O que quer dizer isso?

A guarda da pureza não pode limitar-se a uma precaução exterior, com o suprimir simplesmente as ocasiões perigosas. Não há dúvida que a vigilância nos bons colégios, procura afastar de vós, caros jovens, o que poderia ser causa de tentações.. É elementar prudência.

Mas se contentarmos só com isso, o nosso sistema de educação, seria utópico e falho. Porque enfim, logo à noite, encontrareis fatalmente solicitações libidinosas, ao saírdes do colégio para irdes às vossas casas: serão cartazes de cinemas, exposição de fotografias, cartões postais, pinturas, estátuas pouco friorentas, pares amorosos, encontros nas rodas escolares, etc.

Suponhamos que sois internos e que assim vos livrais das tentações, pela volta quotidiana aos vossos lares; em todo o caso lá virão as férias e tudo o que elas trazem consigo: desocupação, o campo com seus costumes menos recatados, estações de banhos...

E além disso, ou internos ou não, depois do vosso curso, tereis que deixar o colégio. Se vos encerraram numa estufa demasiadamente quente, é sempre perigosa a brusca passagem para o ar livre de fora, pois vos exporiam a incomodas pleurisias e a pneumonias mortais.

Sem cessar, nós nos esforçamos por preservar-vos dos perigos da alma, é de elementar obrigação nossa; mas afinal, como os encontrareis cedo ou tarde e até vivereis no meio deles, o principal cuidado há de consistir em vos armar bem.

O inimigo estará vigilante, mas tereis então armazenada em vós, a necessária força de resistência.

Jesus rogando por seus discípulos, dizia a seu Pai: "Não vos peço os tireis deste mundo, mas que os protejais contra o mal". (Jo. 17-15). São Paulo sentindo o aguilhão da carne e os açoites de Satanás, escrevia: "Pedi a Deus para que a tentação de mim se afastasse. Deus, porém, respondeu-me: a minha graça te basta". (II Cor. 12-8)

O moço frágil  sucumbe no seio da família a mais piedosa, nos meios os mais virtuosos.
E, pelo contrário, um jovem pode permanecer casto nos meios mais deletérios. Será forte se compreendeu bem as noções do dever, do pecado mortal, se tiver sólidas convicções, acerca do céu, do inferno, do amor de Jesus Cristo por nossas almas imortais.

... Tudo o que dissemos pode resumir-se em duas palavras: a vitória não consiste no fato extrínseco e negativo de que a tentação desapareça (é, infelizmente, impossível), mas no fato intrínseco e positivo de se possuir, em si mesmo, uma fonte de fortaleza cristã.

(Excertos do livro: A Grande Guerra - Pe. Hoornaert)
PS: Grifos meus