terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Sensualidade (natureza/estragos)


"Aqueles que mancham a sua carne... astros errantes aos quais uma tempestade de trevas está reservada por toda a eternidade."
(Mgr. Pichenot)

A natureza da sensualidade

O que é a sensualidade?
É a inclinação desregrada da natureza que nos arrasta aos prazeres dos sentidos: constitue uma chaga profunda, um princípio tristemente fecundo de vícios e de pecados.

A sensualidade vem de Deus?
Deus fez o homem reto, diz o Sábio; e essa retidão consistia em que, estando o espírito perfeitamente submetido a Deus, o corpo também estava perfeitamente submetido ao espírito.

Qual a origem da sensualidade?
"Depois do pecado original, as paixões da carne, por uma justa punição de Deus, tornaram-se tirânicas; o homem foi mergulhar no prazer dos sentidos; e, segundo Santo Agostinho, em vez de, por sua imortalidade primitiva e perfeita submissão do corpo ao espírito, se tornar espiritual, mesmo na carne, tornou-se carnal, mesmo no espírito." (Bossuet)

Qual é a conseqüência desta desordem?
Pelo pecado original perdeu-se o equilíbrio, e o corpo tomou um predomínio aterrador sobre a alma. Daí essa inclinação violenta para o prazer sensual, que faz a tortura das almas castas, que produz a vergonha dos caráteres fracos, e que constitui um dos maiores obstáculos a uma educação séria.

Os estragos da sensualidade

* Qual é o "primeiro" estrago produzido pela sensualidade?
É o de transtornar a ordem estabelecida por Deus.

Qual é a ordem desejada por Deus na criação do homem?
Na ordem desejada por Deus, o homem é o rei da criação. Mas não o é pelo seu corpo: certos animais, a este respeito, superam-no. É, pois, por sua alma; e eis porque a alma deve reinar no homem; ela deve governar a sua vida:

O corpo, como escravo, à obediência é forçado.

Como transtorna a sensualidade este plano?
A sensualidade transtorna esta ordem divina, fazendo dominar o corpo sobre a alma e sujeitando a alma aos sentidos.

* Qual é a "segunda desordem" produzida no homem pela sensualidade?
Faz definhar o corpo e a saúde. Não se ofende impunemente a natureza; a natureza ultrajada vinga-se, e as suas vinganças são terríveis.

Como é que a sensualidade faz definhar o corpo e a saúde?
Ela mina, corrompe e destrói este frágil organismo, que ainda não tem o seu desenvolvimento. O rosto juvenil perde a cor e frescura; os olhos encovam-se e perdem o brilho; a testa fica sulcada de rugas precoses; o vigor gasta-se e extingue-se. A Sagrada Escritura chama a este vício "um fogo devorador" que consome o homem até a medula.

"Que fruto colhestes então das coisas de que hoje vos envergonhais? Porque o fim destas coisas é a morte ... Porque o salário do pecado é a morte."
 (Rom., VI, 21-23)

O vício da luxúria "é como a lepra que, nascida da carne, consome a carne. É um verme roedor, e de todos o mais pernicioso: entra em vós adulando; morde-vos sorrindo, e consome-vos, acariciando-vos; mata-vos, inebriando-vos" (São Bernardo)

"Virá um dia, ou antes uma noite, em que esta paixão se transformará num peso inflamado que acenderá nas vossas entranhas um fogo inextinguível e devorar-vos-á até a medula"
(São Pedro Damiano).

Enquanto conserva a pureza , o adolescente cresce como uma planta vigorosa, cheia de seiva, rica de promessas, exuberante de vida. Logo que o vício toma posse deste florescente arbusto, carcome-o, mina-o, marca-o com o estigma duma crepitude prematura.

Os olhos tão límpidos, tão francos, tão retos, quando refletem a virtude, embaciam-se, velam-se, obliquam-se, como que furtando-se a um olhar que os busca, como se estivessem cheios de imagens vergonhosas que procuram ocultar.

O rosto perdeu essa frescura que dá um sangue vigoroso e puro circulando à flor da pele, essa calma das feições confiantes que espalha sobre a fronte tanta serenidade e em toda a fisionomia tanta graça encantadora...

Os membros tornaram-se trêmulos, o andar incerto e mole, os gestos tímidos, como se o equilíbrio do organismo não pudesse retomar com firmeza a sua posição, em conseqüência das enervantes impressões que lhe infligiram...O coração recebeu terríveis choques, que deixam fendas, tornadas casa vez mais largas...

O cérebro é o que recebe primeiro e mais profundamente os golpes desagradáveis de toda a má ação: as sensações violentas destroem-no como raios; perturbam-no, agitam-no, fazem lhe perder o equilíbrio, enfraquecem-no, acarretam levemente a degenerescência...

A vida assim atingida na sua fonte, definha-se fatalmente, a um organismo, tão maltratado pelo vício, caminha mais rapidamente para a morte do que se tivesse sido preservado pela virtude.
(J. Guibert, a pureza, pág. 35 e seg.)

* Qual é a "terceira" desordem produzida no homem pela sensualidade?
É a perturbação do espírito.

Como acontece tal coisa?
Os prazeres sensíveis impedem o uso da razão de três maneiras: perturbam-na, obscurecem-na, paralisam-na. (São Tomás).

1º - Perturbam-na
A imaginação atormentada por fantasmas impuros, não sabe libertar-se, e arrasta o espírito por sendas vergonhosas.

"A criança sensual é melancólica e distraída; pouco trabalha, pouco se aplica. A alma materializa-se; confunde-se com os orgãos, gastando dessa forma toda a sua atividade física." (R.P.Lacordaire)

2º - Obscurecem-na
A sensualidade "é um fogo que devora; mas não inflama, defuma; não ilumina, cega"
(Pedro de Blois)

3º - Paralisam-na
O espírito, nas práticas vergonhosas da sensualidade "perde a sua energia, o seu vigor, a sua delicadeza e a sua graça; enervado por vis prazeres, merfulhado na lama dos sentidos, embota-se, entorpece-se, atola-se na preguiça e no topor."
(Mgr. Dupanloup)

* Qual é a "quarta" desordem produzida no homem pela sensualidade?
É corromper o coração.

Como acontece tal coisa?
- O vício grosseiro mata o coração daqueles que se lhe entregam. A bondade, a doçura, a amabilidade, a simplicidade, a sinceridade, que faziam o encanto da criança, deram lugar a um humor contristado, caprichoso, extravagante.

- As afeições boas e puras esgotam-se na sua fonte. O reconhecimento já não existe. A sensibilidade generosa e elevada desvaneceu-se
- Com efeito, o sensual é, necessariamente, um egoísta.

"A devassidão não passa dum medonho egoísmo que mata tudo o que há em nós de terno e de elevado." (Lacordaire)

Lacordaire (Na XXII conferência de Notre-Dame), confronta o coração do jovem vicioso com o coração do jovem puro. E diz:

"Um é egoísta, outro generoso; um vive de si, outro fora de si: entre estas duas tendências, uma deve prevalecer... Se a tendência depravada prevalece, o coração murcha pouco a pouco e já não sente as alegrias simples, não se dedica por ninguém, acaba por não pulsar senão para dar curso ao sangue e marcar as horas desse tempo vergonhoso, cuja fuga a devassidão precipita.

A alma do voluptuoso transforma-se toda em carne. As fontes do amor, da misericórdia, secam. O coração, que deu toda a sua vida aos sentidos, esteriliza-se e endurece; o egoísmo feroz penetra nele lentamente e assenta-se sobre o trono das afeições generosas. Os próprios sentimentos da natureza adormecem. Há frio, há trevas, há horrores nessa alma, ao passo que, em volta dela, quero dizer, na carne, tudo se ilumina e se inflama aos olhos da cobiça..."

- A sensualidade destrói a sinceridade, porque é vicioso é dissimulado.

Não se encontram, todavia, crianças sensuais que são dotadas de bom coração?
As crianças sensuais têm, algumas vezes, o ar de possuir um bom coração. Mas isso não passa, muitas vezes, duma vã aparência. Em todo o caso, a sua sensibilidade deve ser estudada: é preciso indagar a origem. Se vem do coração, é um recurso que pode salvar tudo... se vem dos sentidos - é este o caso mais vulgar - é falsa e perigosa.

Como nos devemos comportar com as crianças que são afetuosas apenas por sensualidade?
"É preciso usar de bondade com tais crianças, mas raras vezes de ternura, a não ser com muita gravidade. Só se lhes devem permitir, com uma extrena reserva, as manifestações sensíveis da sua débil ternura; é preciso dispensar-lhes compaixão, mas que esta seja firme e elevada."
(Mgr. Dupanloup)

* Qual a "quinta" desordem produzida no homem pela sensualidade?
É despedaçar a vontade ou, pelo menos, falseá-la.

"O infeliz, vítima do vício ímpuro, está imóvel, enlanguescido, indolente, sem ânimo, rebelde ao esforço; não caminha, arrasta-se; não age, deixa-se levar pelas necessidades do momento; já não é o homem de iniciativa, cinge-se unicamnete ao dever a que se não se pode furtar; e ainda nisso é muito negligente e só tem habilidade para encontrar pretextos de evitar um esforço."
(J. Guibert)

Como acontece tal coisa?
Três elementos dão a vontade a sua força:

- Um ideal que ambicione atingir;
- Um poder de atenção que retenha a imagem eficaz sempre presente ao pensamento;
- Reservas de energia que conservem o organismo sempre em estado se seguir fielmente os impulsos do ideal.

Ora, o homem vicioso destruiu ou gravemente alterou esses três elementos:

- O ideal é para ele um sonho infantil de que zomba.
- A atenção é monopolizada totalmente pelos cuidados dos prazeres.
- A energia já não encontra abrigo no seu organismo esgotado e no seu sistema nervoso fundamentalmente desequilibrado.


Que conclusões se impõem ao educador sério, depois do pequeno estudo que acabamos de fazer?
Ei-las:

- É preciso, a todo o custo, preservar as crianças do terrível flagelo da sensualidade e prendê-las à virtude oposta por todas as energias do seu ser físico e moral. Esta salvanguarda é um dos deveres mais graves da autoridade paternal e maternal.

A incúria e a leviandade seriam neste particular imperdoáveis; nem mesmo se poderiam conceber. E, para nos servirmos duma passagem da Sagrada Escritura, diremos que os pais devem velar pela inocência de seus filhos, como pela menina dos seus olhos.

- É preciso tentar o impossível, para arrancar do mal as crianças que se hajam tornado suas vítimas.

(Catecismo da Educação - Abade René Bethléem)

PS: Grifos meus
PS 2: Em breve: Os meios a empregar para salvaguardar as crianças.